28/11/2008
Leonel Camasão
A vista não era nada agradável ao chegar em casa depois de uma semana fora: madeira inchada, paredes tortas, forro apodrecendo. A pequena habitação na esquina das ruas São Lourenço e São João Clímaco, no Jativoca, estava condenada. Lá, vivem a diarista Bernardete Delgado, de 45 anos, a filha, Celma, de 18, e outras seis pessoas. Quase tudo, a começar pela casa, foi perdido.
É a segunda vez que a família Delgado fica sem ter onde morar este ano por conta das chuvas. A primeira vez foi durante as cheias de Janeiro. O lugar onde viviam veio abaixo com a força das águas. Após passar um período na casa de familiares, alugaram, pela bagatela de R$ 100, o casebre onde estavam até o dia 21 de novembro, primeiro dia das cheias. O preço baixo se justifica pelos alagamentos freqüentes, ruas de barro e completa falta de infra-estrutura no Jativoca.
“O meu pensamento é de que vamos lutar para construir uma casinha só nossa. A gente já tem o terreno, onde ficava a outra casa que caiu”, lamenta-se Bernardete. As paredes da nova morada já foram erguidas, mas a falta de dinheiro impediu a conclusão da casa. Para piorar, a família Delgado perdeu oito sacos de cimento, cal, areia e outros materiais que estavam no terreno, por conta da chuva. “A gente espera conseguir ajuda”, conclui.
Os moradores que estavam alojados na Igreja Nossa Senhora da Aparecida começaram a retornar aos seus lares na quarta-feira. Ainda assim, de quinta para sexta-feira, oito famílias dormiram por lá. O local também está centralizando a distribuição de cestas básicas, roupas, calçados, colchões e outros donativos. Durante a tarde, agentes comunitárias de saúde visitaram as casas para dar orientações sobre como prevenir leptospirose e outras doenças.
Na casa de Grasiela Ribeiro, trabalhadora em uma fábrica da cidade, os únicos móveis que serão reaproveitados são uma mesa de cozinha e o fogão. Lá, a água chegou a ficar no nível do umbigo de Grasiela, o suficiente para encobrir por completo o filho dela, Carlos Eduardo de sete anos. Os pais da moça perderam a casa e devem ficar com ela até conseguirem outro lugar para morar. “A casa tá úmida, parece que não presta mais. Vamos tentar construir um segundo andar e usar isso aqui de garagem”, afirmou.
*Texto produzido originalmente para o jornal A Notícia. A versão publicada pelo impresso, com pequenos ajustes, está disponível aqui.