Arquivo da categoria: reforma agrária
Segundo a CPT, nem 10% dos homicídios no campo desde 1985 foram julgados
Jornal Sem Terra completa 30 anos
Agronegócio perde em eficácia para a agricultura familiar
As propriedades rurais no Brasil devem ter um limite de tamanho?
Desde o dia 1º até o dia 7 de setembro, várias organizações e movimentos sociais estão nas ruas realizando um plebiscito sobre o tamanho das propriedades rurais no Brasil. Organizada pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra coloca para a sociedade a seguinte questão: as propriedades rurais de terra devem ter um limite máximo de tamanho?
De acordo com os organizadores da campanha, o Brasil tem a segunda maior concentração fundiária do planeta. 2,8% das propriedades rurais ocupam mais da metade da extensão territorial agricultável do país (56,7%). Já as pequenas propriedades representam 62,2% dos imóveis e ocupam apenas 7,9% da área total. Os dados são do IBGE, referentes ao ano de 2006.
Outra questão importante tem a ver com a produção de alimentos. A maior parte dos alimentos produzidos para consumo interno no Brasil provém da agricultura familar, enquanto o agronegócio produz principalmente commodities: soja, cana de açúcar e eucalipto para exportação, sendo um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo.
Além disso, conforme lembrado pela FASE em editorial em seu site, este debate “tem obrigatoriamente que passar pela questão ambiental. Não é mais possível negar que as imensas extensões de terra que são propriedade de grandes fazendeiros ou mesmo de empresas transnacionais eram, tempos atrás, os biomas brasileiros que agora estão sob ataque. Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa.”
“Sem floresta, sem cursos d’água, sem a biodiversidade, ficará cada vez mais difícil para todos nós a manutenção de uma qualidade de vida digna. Já se notam mudanças climáticas grandes e pequenas que, ainda que não tenham comprovação científica cabal, a prudência recomenda ouvir o senso comum que identifica claramente a insensatez ambiental como a causa de secas prolongadas em alguns lugares e enxurradas em outros.”
Para saber mais informações sobre a campanha e conhecer os locais de votação, clique aqui.
* Raquel é urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.
Fonte: Blog da Raquel Rolnik
Dilma e MST: "Se teve um governo que instituiu a paz no campo, foi o governo do presidente Lula"
Relatório lançado recentemente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que a média anual de conflitos no campo aumentou 16,13% no governo Lula.
Nos oito anos de FHC, a média ficou em 800 conflitos/ano. Já nos sete anos de governo Lula analisados (2010 não entra na estatística), o número saltou para 929. Além disso, o governo contabiliza regularizações fundiárias na estatística de reforma agrária, tornando os números irreais.
E isso que nem falei da polêmica do boné…
Confrontos por terra tornaram-se mais frequentes no governo Lula
Nos últimos 25 anos, o período com o maior número de conflitos agrários no País foi o do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com estudo divulgado ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), a média anual de conflitos registrados entre 2003, quando Lula assumiu, e 2009 chegou a 929.
O recorde anterior havia sido observado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com a média de 800 conflitos por ano. “O período entre 2003 e 2009 é claramente o de maior conflitividade desde o início da redemocratização do País, em 1985”, disse o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, pesquisador da Universidade Federal Fluminense e autor do estudo que aponta o grau de tensão no campo em diferentes fases da história recente do País.
Assessor do setor de documentação da CPT, Porto-Gonçalves lastreou seu trabalho em séries estatísticas produzidas pela instituição. Para fazer sua análise, ele dividiu a história recente do País em cinco períodos – de acordo com ciclos de ações dos movimentos sociais e da vida democrática. O primeiro, de 1985 a 1990, é o período imediatamente após a ditadura militar, quando a violência no campo atinge o maior volume de assassinatos já registrado na história recente. Foram quase 130 mortes por ano naquela época, quando existia uma grande expectativa de mudança, em meio aos debates da Assembleia Constituinte.
No segundo período, de 1991 a 1995, a democracia se consolida e os movimentos de sem-terra ganham força. O terceiro período dura de 1996 a 2000. É quando, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, os sem-terra se tornam mais ousados e promovem a maior onda de invasões de terras já registrada.
O quarto período envolve os dois últimos anos do mandato de Fernando Henrique, que, para conter a onda de invasões, baixou uma medida provisória que tornava indisponíveis para a reforma agrária as propriedades rurais invadidas pelos sem-terra. O ato provocou um refluxo nas invasões e fez a média anual de conflitos cair de 800 para 536.
O último período é o que trata do governo Lula, quando a medida provisória do governo anterior é praticamente ignorada e as invasões aumentam – assim como as reações dos proprietários rurais e da máquina do Estado, especialmente o Judiciário. A média anual de famílias despejadas quase dobrou, passando de 11.781 nos dois últimos anos do governo Fernando Henrique para 22 mil nos 7 anos do governo Lula.
Na avaliação de Porto-Gonçalves, esse aumento das tensões na zona agrária nos últimos sete anos tem uma correlação direta com o avanço da democracia.
Despejo. “A eleição de Lula, um operário ligado ao Partido dos Trabalhadores, significou a afirmação do processo de redemocratização, criou enormes expectativas de mudanças e, ao mesmo tempo, açulou o medo das oligarquias rurais, que passaram a reagir com maior intensidade e mais violência”, disse o pesquisador. “Mas não foi só a violência do poder privado que aumentou. No período recente houve um crescimento notável no número de famílias despejadas de áreas ocupadas, o que significa que a violência do poder público também aumentou.”
Os números da pesquisa foram apresentados em São Paulo, durante evento organizado para marcar os 25 anos de séries estatísticas da CPT sobre conflitos no campo. Na ocasião, o presidente da comissão, bispo Ladislau Biernaski, também divulgou o relatório de 2009 – indicando que a tensão aumentou em relação a 2008. O número de conflitos, envolvendo invasões, mortes, despejos e outros acontecimentos, subiu de 1.170 para 1.184.
O bispo anunciou ainda que a CPT vai apoiar em setembro a realização de plebiscito para saber se a população aprova ou não a ideia de impor um limite ao tamanho da propriedade rural no País.
Fonte: Estadão
Ativista da reforma agrária é assassinado no Pará
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O presidente da Federação da Agricultura Familiar (Fetraf), Pedro Alcântara de Souza, proeminente ativista a favor da reforma agrária na Amazônia brasileira foi assassinado no início da noite de quarta-feira, 31, com cinco tiros na cabeça. A informação é da Associated Press.
Pedro Alcântara de Souza estava andando de bicicleta com a esposa Marielza de Souza, por volta das 18h30, quando dois homens, em uma motocicleta, se aproximaram e dispararam. Segundo a polícia de Redenção o crime pode ter sido por encomenda e executado por pistoleiros profissionais.
Pedro Alcântara de Souza foi vereador em Redenção por três mandatos, de 82 a 96, sendo o primeiro mandato exercido durante 6 anos.
O crime aconteceu horas depois do anúncio de que o julgamento do suposto assassino da missionária Dorothy Stang tinha sido adiado pela justiça. Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, é o único preso dentre os acusados pela morte da missionária.
Segundo informações do Estadão, grupos defensores dizem que os conflitos locais entre fazendeiros e camponeses pobres já provocaram cerca de 1.200 assassinatos nos últimos 20 anos na região.
Assembléia Legislativa de SP cria CPI da Cutrale
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A Assembléia Legislativa de São Paulo dará início a uma CPI para investigar a prática de cartel no setor de suco de laranja. No total, 36 parlamentares assinaram o pedido de instauração da Comissão. Para abrir a CPI, são necessárias 32.
De acordo com matéria do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta quinta-feira (25/3), a decisão de pedir a CPI foi tomada após a divulgação de reportagem em que o ex-empresário do setor de suco de laranja Dino Tofini revela como surgiu e como operava o cartel, concebido por José Luis Cutrale (sócio-proprietário da Cutrale), do qual participou e que ajudou a montar no início da década de 90 .
A suposta prática de cartel está sob investigação da SDE (Secretaria de Direito Econômico) desde 2006, quando os fabricantes de suco foram alvo da operação Fanta, feita por policiais e técnicos da secretaria.
O início dos trabalhos da CPI depende agora do encerramento de outras comissões em andamento.
Um dos objetivos da comissão, segundo o deputado estadual que a idealizou, Luis Carlos Gondim (PPS), é tentar mapear quantos agricultores foram expulsos do setor nos últimos anos. “Temos informação de que em cidades como Pirangi, em que 90% da lavoura era de plantação de laranja, hoje está 70% tomada pela cana”, diz Gondim.
Da página do MST
Os limites da legalidade
Leonel Camasão*
Uma onda criminosa assolava o interior do Estado da Bahia há pouco mais de 300 anos. Os governantes estavam horrorizados com a desordem social causada pelo bando. Os crimes e as fugas cometidas pelo líder dos bandidos eram tão numerosos e lendários que seu autor ganhou a fama de “imortal”.
Obviamente, o “meliante” não era imortal. Ele foi decapitado, e sua cabeça, exposta em praça pública para dar o exemplo. Seu nome era Zumbi dos Palmares, líder negro que cometeu o crime de lutar pelo fim da escravidão.
Hoje, três séculos depois, qualquer um concluí que a escravidão foi um crime contra a humanidade. A resistência “ilegal” foi amplamente necessária para o fim de tal regime. Assim foi também na ditadura militar.
Nos últimos 25 anos, temos assistido prisões e até assassinatos dos membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Diversos setores do judiciário, da sociedade e da imprensa os consideram criminosos perigosíssimos, apesar de lutarem por um motivo justo: a ampla e igualitária distribuição das terras do país.
Hoje, no Brasil, 1% dos proprietários são donos de 46% das terras privadas do País. O Índice de Gini, usado para medir a concentração de terra, confirma os dados. Em uma escala de zero a um, onde zero é a distribuição igualitária da terra e um é a concentração total, atingimos a desonrada marca de 0,872, nos tornando o país com a maior concentração de terras do mundo.
Será possível, portanto, conseguir a reforma agrária dentro da “legalidade”? Foi possível abolir a escravatura sem que milhares de negros escravos desrespeitassem as leis da época? Vemos que a legalidade tem limites e não está aí para fazer justiça, mas para impedir as mudanças que o país precisa.
Fomos o último país do mundo a abolir a escravidão. E provavelmente seremos o último a fazer a reforma agrária. Temos a esperança que, no futuro, olhem para nossa época e também considerem o latifúndio – assim como a escravidão – um crime contra a humanidade.
Leonel Camasão é jornalista e membro da Executiva Estadual do PSOL-SC