Arquivo mensal: setembro 2009

Um retrato do Brasil na Era Sarney

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Esta é uma dica da amiga e jornalista Lilian Cardoso, ex-companheira de AN Jaraguá, que está trabalhando na Geração Editorial. Leiam a sinopse do livro abaixo.

Em 2008, o senador José Sarney voltou a ser manchete, principalmente das páginas policiais, quando revelada a organização criminosa da qual seu filho fazia parte. Para não deixar o filho ir para a cadeia, ele teve de disputar no ano seguinte a presidência do Senado. Foi preciso colocar a cara para bater. O poderoso coronel voltou para dar forças aos filhos, para salvá-los.

Pela primeira vez em livro, um jornalista – Palmério Dória, um veterano do jornalismo investigativo – reconstrói toda a insólita trajetória do ex-governador do Maranhão, ex-presidente da República e atual senador José Sarney. Sua vida, seus negócios, seu destino – presidente da República por acaso – sua família, amigos e correligionários, todos envolvidos numa teia cujos meandros os jornais e revistas revelaram nos últimos meses – sem a riqueza de detalhes e revelações surpreendentes agora contidas em livro.

Obediente às regras do “bom e verdadeiro jornalismo”, Palmério faz um implacável retrato do poderoso coronel de maneira transparente e inteligente. Neste livro o leitor vai saber como Sarney consegue envolver tanta gente na sua teia.

A objetividade, veracidade na descrição de personagens e situações, concisão, originalidade e calor humano fazem da obra uma leitura obrigatória e prazerosa.

“E, para honrar o jornalismo, atualidade absoluta e, ao mesmo tempo, permanência, pois vai girar a roda da história e os pósteros sempre aí beberão em fonte cristalina para conhecer costumes políticos e sociais desta nossa época em que um político brasileiro, metido em escândalos até o pescoço, exerce o poder de fato, acima de qualquer suspeita”, enfatiza Palmério, que fez o livro a quatro mãos com o jornalista e amigo de décadas Mylton Severiano, o Myltainho da revista “Realidade”, dos anos 1960, e da equipe que fundou o “Jornal da Tarde”.

Os dois formaram uma dupla de peso. Enquanto Palmério cuidava da investigação, Mylton fez a pesquisas e reuniu os dados, posteriormente cruzados e checados com rigor.

“Honoráveis Bandidos” contém um caderno especial de 16 páginas com hilariantes charges de nada menos que os irmãos Caruso – Chico e Paulo – sobre o principal ator desta história real. “Sarney sempre esteve na história do Brasil. Não há como descartar o Sarney. Ele sempre foi o mal maior”, responde Palmério Dória ao ser indagado “por que Sarney?”.

É a primeira vez o mercado editorial receberá um livro com toda a história secreta do surgimento, enriquecimento e tomada do poder regional da família Sarney no Maranhão e o controle quase total, do Senado, pelo patriarca que virou presidente da República por acidente, transformou um Estado no quintal de sua casa e ainda beneficiou amigos e parentes.

Um livro arrasador, na mesma linha de “Memórias das trevas – uma devassa na vida do senador Antonio Carlos Magalhães,do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, também da mesma editora, e que na época do lançamento contribuiu para a queda do poderoso coronel da política baiana. Um best seller que ficou semanas nas listas dos mais vendidos.

O livro tem uma leitura saborosa a partir dos títulos de capítulos, atrevidos e maliciosos, como os seguintes:

Nasceu, cresceu e criou dentes dentro do Tribunal.

As primeiras trapaças com a urna.

Al Capone seria aprendiz perto desse rapaz de bigodinho, disse o italiano logrado.

Coronéis baixam no Maranhão com ordens de Castelo: “eleger” Sarney.

Um milhão de maranhenses migram.

Caçula diploma-se em delinquenciologia no governo Maluf.

Homem da mala morre, dinheiro some, Sarney tem um troço.

No confisco de Collor, caçula salva a grana da família na calada da noite.

Na área de energia, vendem até o poste.

Maranhenses só veem na tevê o que os netinhos da ditadura querem.

Operação Boi-Barrica pega diálogos de arrepiar.

Caçula não sai de casa sem o principal adereço: habeas corpus preventivo.

Lama jorra no Senado. A máquina de atos secretos.

Leia agora: Tradução do decreto que instala regime de exceção em Honduras

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Artigo 1. – Ficam restringidos, por um prazo de quarenta e cinco (45) dias, contando a partir da entrada em vigência do presente Decreto, as garantias constitucionais previstas nos artigos 69, 72, 78, 81,84,que se regularão pelo presente decreto.

Artigo 2. – As forças armadas apoiarão, conjunta ou separadamente, quando a situação assim exigir, a Policia Nacional, devendo colocar em execução os planos necessários para manter a ordem e a segurança da República.

Artigo 3. – Fica proibido:

1° A livre circulação, a qual se restringirá conforme os parâmetros estabelecidos nos comunicados à imprensa emitidos em cadeia nacional pela Presidência da Republica, no que se refere ao espaço territorial, e a duração do toque de recolher, com exceção do transporte de carga, ambulâncias, a circulação urbana nas cidades não compreendidas nos referidos comunicados; assim como os trabalhadores da saúde nas cidades em que valha o toque de recolher.

2° Toda reunião pública não autorizada pelas autoridades policiais ou militares;

3° Emitir publicação por qualquer mídia, falada, escrita ou televisionada, que ofendam a dignidade humana, os funcionários públicos, ou atentem contra a lei e as resoluções governamentais; ou de qualquer modo atentem contra a paz e a ordem pública; A CONATEL, através da Policia Nacional e as Forças Armadas, fica autorizada para suspender qualquer emissora de rádio, canal de televisão ou sistema de cabo que não ajuste sua programação a estas disposições.

Artigo 4. – Ordena-se:

1° Deter toda pessoa que seja encontrada fora do horário de circulação estabelecido neste decreto, ou que de alguma maneira se presuma como suspeito pelas autoridades policiais e militares, de causar danos às pessoas ou seus bens, ou àqueles que se associem com o objetivo de cometer atos delituosos, ou coloquem em risco a própria vida. A todo o detento se lerão os seus direitos, assim mesmo, deverão levar um registro em cada posto ou recinto policial do país com os dados de identificação de todos os detidos, motivos, hora de detenção, ingresso e saída dos postos policiais, fazendo constar o estado físico dos detidos, para evitar futuras denúncias de delitos de tortura.

2° Toda pessoa detida deverá permanecer em reclusão nos centros de detenção legalmente estabelecidos.

3° O desalojamento de toda instalação pública que tenha sido tomada por manifestantes ou se encontrem pessoas em seu interior realizando atividades proibidas pela lei.

4° A todas as Secretarias de Estado, instituições descentralizadas e desconcentradas, municipalidades e demais órgãos estatais, que fiquem à disposição da Policia Nacional e das Forças Armadas sem delação alguma, nos meios à sua disposição, no que lhes for solicitado para o desenvolvimento das operações.

Artigo 5. O presente Decreto entrará em vigor imediatamente, devendo publicar-se no Diário Oficial “La Gaceta” e remeter-se à Secretaria do Congresso Nacional; para os efeitos da lei.

Dado em Casa Presidencial na cidade de Tegucigalpa, município do Distrito Central, aos vinte dias do mês de setembro de 2009.

ROBERTO MICHELETTI BAÍN

PRESIDENTE CONSTITUCIONAL DA REPÚBLICA

Tradução de Leonel Camasão http://www.blogdocamasao.blogspot.com
Retirado e traduzido de: http://hondurasenlucha.blogspot.com/

Quem disse que é impossível? Tarifa Zero na Bélgica

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Reproduzo abaixo texto do portal

Tarifa Zero.

A cidade de Hasselt, capital da província de Limburg, na Bélgica, faz parte de um pequeno, mas crescente, número de cidades ao redor do mundo que estão oferecendo tarifa zero no transporte público.

Desde 1º de julho de 1997, as linhas municipais de Hasselt são de uso gratuito para todos e, no caso de linhas centrais, até mesmo não-habitantes da cidade usufruem da tarifa zero.

A idéia do transporte público gratuito teve início em meados de 1996, a partir da Política Integrada de Transporte, desenvolvida pelo ministro de Transporte de Flandres (região flamenga, no Norte do país) Eddy Baldewijsn, que estabelecia o transporte público como prioridade. A cidade de Hasselt foi uma das primeiras a subscrever o plano. O prefeito Steve Stevaert propôs conceder primazia ao transporte público sob o lema “a cidade garante o direito à mobilidade para todos”.

Aspectos do sistema de transporte

As linhas locais são chamadas de Linhas H e funcionam das seis da manhã até sete da noite. Há um intervalo máximo de 30 minutos de espera entre um ônibus e outro. Em algumas linhas são adicionados ônibus extras nos horários de pico – das sete às nove da manhã e das quatro às seis da tarde. As linhas circulares da região do boulevard têm intervalos de cinco minutos e as circulares do centro, intervalos de dez minutos. Quase todos os ônibus locais são adaptados para cadeirantes.

O serviço regional de transporte (Linhas Vermelhas) é gratuito para moradores de Hasselt, desde que mostrem seus cartões de identidade para o motorista do ônibus. Quem não mora em Hasselt paga a tarifa comum, exceto crianças com menos de 12 anos. As linhas regionais Azuis têm uma tarifa própria. Na combinação do uso de linhas regionais e locais, os passageiros pagam a tarifa comum pela viagem completa.

Controle tarifário e inspeção

Nas Linhas H, passageiros não precisam apresentar nenhum tipo de documento. Não há fraude possível, já que o serviço é gratuito. Ainda assim, as rotas são monitoradas para propósitos de controle de qualidade.

Resultados da tarifa zero

Após a introdução da política de tarifa zero, o uso do transporte público aumentou imediatamente e se manteve alto, sendo, hoje, dez vezes maior se comparado ao período anterior. O site oficial de Hasselt registra o crescimento da seguinte forma:

Ano

Passageiros

Porcentagem

1996

360 000

100%

1997

1 498 088

428%

1998

2 837 975

810%

1999

2 840 924

811%

2000

3 178 548

908%

2001

3 706 638

1059%

2002

3 640 270

1040%

2003

3 895 886

1113%

2004

4 259 008

1217%

2005

4 257 408

1216%

2006

4 614 844

1319%

Por garantir acesso à tarifa zero no transporte público, o site de notícias http://gva.be descreveu o cartão de identidade dos habitantes de Hasselt da seguinte forma: “vale como ouro”.

Traduzido e adaptado de http://en.wikipedia.org/wiki/Public_transport_in_Hasselt

A mobilidade que queremos

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Na ultima quinta-feira, fui convidado pelo Movimento Passe Livre (MPL) para representá-los em um debate promovido pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Univille, com o tema “Mobilidade Urbana no Campus”. Além do MPL, foram convidados técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj) e representantes das empresas de ônibus. Alunos e professores também acompanharam o evento.

Apesar do público baixo – orbitou em torno de 20 pessoas, contando os que chegaram depois – acredito que este debate foi de uma riqueza ímpar, pois pela primeira vez, governo, empresas e movimento social estiveram juntos em um mesmo espaço, dando suas visões sobre a mobilidade e o transporte coletivo.

O técnico Marcel Virmond Vieira começou a exposição, em uma fala de mais de uma hora, onde deu números, dados e estatísticas sobre a mobilidade de Joinville. Acabei anotando alguns, que julguei interessantes e reproduzo graficamente abaixo.


Virmond exibiu também uma lista de obras que a Prefeitura está fazendo ou irá fazer, como alargamento de vias, ampliação de ciclovias, duplicações, entre outros. Para concluir, o técnico mostrou uma planta de como seria o mini-terminal da Univille.

Enquanto as pessoas perguntavam sobre o mini-terminal, fui chamado a falar. Aproveitei para, de início, deixar claro: não será o mini-terminal que vai resolver o problema de mobilidade no Campus da Univille. Disse mais ou menos o seguinte:

Afirmei que o mini-terminal resolverá, no máximo, o problema de embarque e desembarque dos estudantes, mas não o da mobilidade. Por exemplo: quem mora na Zona Sul só vai ter mobilidade para vir até a Univille se no trajeto houver mobilidade. O mesmo vale para o Boa Vista, Iririú, Guanabara e todo o resto: só há mobilidade no campus se houver mobilidade na cidade.

O coração da nossa mobilidade – o transporte coletivo – é o mais caro e mais ineficiente, segundo teste de mobilidade realizado pelo jornal A Notícia.


Constatei também o eminente colapso do sistema: hoje, enquanto a tarifa sobe, o número de passageiros cai cada vez mais, como mostram os gráficos. Enquanto isso, empresas pedem isenção fiscal para continuarem gerindo um sitema falido por mais uns 15 anos. Vamos explicar

Funciona assim. A tarifa é, hoje, o custo total (CT) dividido pelo número de passageiros pagantes. Em uma conta simples, se o CT é 100 e eu tenho 10 passageiros, a tarifa é 10, afinal, 100/10 = 10.

Se dois passageiros compram uma moto e deixam de usar o ônibus, o CT continua o mesmo, mas a tarifa sobe. 100/8 = 12,5. Isso ocorre em circulo, pois a tarifa sempre aumenta (combustivel, salários, etc) e os passageiros sempre vão embora porque pagar a prestação de uma moto é mais barato. Esse é o círculo vicioso, que levará o sistema ao colapso se nada for feito.

A proposta que apresentei – que é uma das propostas debatidas dentro do Movimento Passe Livre – é a de municipalização do sistema. Ela estanca o colapso, democratiza o transporte, torna o controle mais rígido, mas não garante mobilidade de fato. O que garante a mobilidade é o Tarifa Zero. Pois, a custo Zero, as pessoas podem deixar carros e motos em casa para utilizar o transporte, desafogando o trânsito, diminuindo acidentes, diminuindo o passivo ambiental, e assim por diante.

Hasselt, na Bélgica, promoveu o Tarifa Zero. Lá, em dez anos, o número de usuários aumentou 1.319%, saltando de 360 mil em 1996 para 4,6 milhões em 2006. O resultado é visto nas ruas.

Para financiar o Tarifa Zero, pode-se criar um Fundo Municipal, que receberia verbas específicas, como por exemplo, o dinheiro arrecadado com o estacionamento rotativo, repasses do IPVA, IPTU progressivo, entre outros.

Ciro é o primeiro a confirmar candidatura

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O deputado federal Ciro Gomes (PSB/CE) declarou-se candidato à presidência da república em 2010 nesta sexta-feira. Ciro é o primeiro a falar que será candidato em público, apesar de todo mundo já saber quem são os adversários.

Animado com a última pesquisa do IBOPE, Ciro também atacou Serra e está buscando aproximação com o PDT, numa tentativa de reavivar o “bloquinho de esquerda”, composto por PDT, PCdoB e PSB.

Ciro está usando como estratégia o discurso de que é o candidato governista sem a mancha do PMDB. “Sou candidato pela terceira vez, um candidato da base do governo.”Para ele, a aliança PT/PMDB é “frouxa” do ponto de vista “moral e intelectual”.

“Tudo bem se ficar PT com PMDB. Eles ficam com o tempo de TV e o poder do mundo todo. A outra parte vai pro meio da rua, livre, sem ter de homenagear Sarney. Senão eles (do PSDB) vão acusar a gente de estar agarrado com Collor e Sarney e nós não vamos poder dizer nada. O PT fez um cavalo de pau violento, mas a gente não precisa fazer esse cavalo-de-pau”, disse ao Estadão.

Para viabilizar a candidatura, Ciro contou com o apoio de lideranças comprometedoras, como a do deputado federal Paulo Pereira (PDT), o Paulinho da Força Sindical. Paulinho chegou a dizer que Ciro era o seu candidato a presidente.

Arco Íris terá nova assembleia

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A Associação Arco Íris realizará uma nova assembleia geral na próxima sexta-feira, 9 de outubro, para debater mudanças estatutárias e convocar eleições para sua diretoria. A intenção do grupo é aumentar o tamanho da direção, que hoje, possui apenas quatro membros.

Na última asembleia, realizada no dia 13 de agosto, elegeu uma direção provisória para encaminhar as mudanças estatutárias e convocar as eleições. O atual presidente, Marcelo Mendes, não deve ficar no cargo por compromissos profissionais.

O evento é aberto a todos os filiados, com direito a voto, e a observadores, sem direito a voto. Será no dia 9 de outubro, às 19 horas, no Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz (CDH).

Sem Heloísa, Ciro sobe e deixa Dilma em terceiro

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Última pesquisa Ibope, divulgada nesta terça-feira, mostra a evolução do cenário para as eleições 2010. Particularmente, dos principais institutos de pesquisa eleitoral do Brasil, o que menos confio é o Ibope. Entretanto, apenas este instituto analisou as intenções de voto para presidente nos dois cenários mais prováveis: José Serra (PSDB), Dilma Roussef (PT), Ciro Gomes (PSB), Marina Silva (PV) com Heloísa ou sem Heloísa Helena (PSOL).

Apesar da torcida da imprensa nacional em boicotar Heloísa para transferir votos para Marina Silva, a pesquisa do Ibope mostra que o maior beneficiado pela retirada da socialista da disputa é Ciro Gomes.

No cenário com as cinco candidaturas, Serra lidera com 34%, seguido de Dilma e Ciro cravados com 14% cada. Heloísa aparece com 8% e Marina, com 6%.

Sem HH, Ciro recebe três dos oito pontos de Heloísa, seguido por Marina, que recebe dois. Dilma, Serra e Nulos aumentam em um ponto. Agora, com a subida de Ciro, a tática da imprensa é dizer que Dilma é um balão furado.

Não é de hoje que HH assumiu que prefere dar continuidade a um projeto pessoal (se eleger senadora) do que ajudar a construir o PSOL Brasil afora. Esta inclinação também ocorre porque o grupo político de Heloísa é, hoje, minoria dentro do partido (cerca de 40%). Sem sua presença como candidata a presidente, a eleição de parlamentares nos estados e para a Câmara fica prejudicada, dando possibilidade para ela retomar o controle do partido por ser sua única expressão nacional.

Veja os números do Ibope

Cenário 1
José Serra – 34%
Dilma Rousseff – 14%
Ciro Gomes – 14%
Heloísa Helena – 8%
Marina Silva – 6%
Brancos e Nulos – 13%
Não sabem – 10%

Cenário 2
José Serra – 35%
Ciro Gomes – 17%
Dilma Rousseff – 15%
Marina Silva – 8%
Brancos e Nulos – 14%
Não sabem – 10%

Medo de investigar a dívida pública

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Por Ivan Valente

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Dívida Pública iniciou suas atividades no mês passado e terá um grande trabalho pela frente. Seu primeiro grande desafio é superar as obstruções e ataques daqueles que não querem investigar nada, dos que não topam mexer com esse vespeiro, afinal, toca em interesses poderosos.

Está mais do que na hora de investigar o mecanismo que é o principal gargalo do desenvolvimento brasileiro. Uma investigação profunda, que não se restrinja ao período de apenas um governo. A vida mostrou como a política neoliberal no Brasil aprofundou um modelo dependente financeiramente, que tem como pedra angular a dívida pública.

Uma política que ainda prevalece. É por ela que o país sofre uma hemorragia brutal nas suas finanças, via recursos orçamentários e a emissão de títulos públicos – resultado de escolhas políticas de governantes.

Trata-se de um sistema que se retroalimenta e inviabiliza qualquer crescimento sustentável e com justiça social Só na cabeça de quem se abraçou com o pensamento único do liberalismo é possível pensar que não há outras vias e modo de pensar a economia e seus beneficiários.

Na CPI da Dívida, o PSOL, que propôs a abertura da Comissão, objetiva dinamizar o debate e trazer elementos substantivos para a discussão sobre a dívida pública.

O que não se pode é transformar o instrumento CPI numa sequência de audiências vazias, retirando seu poder de convocar, requerer documentos essenciais, investigar, de sugerir ao Ministério Público medidas punitivas ou corretivas e colocar a necessidade de governo assumir uma auditoria da dívida pública.

O que não se pode é promover uma movimentação de caráter francamente ideológico, orquestrada por alguns que não suportam sequer discutir os fundamentos da política neoliberal, questionar a infalibilidade do mercado e principalmente colocar a nu um mecanismo de endividamento responsável pela contínua sangria e transferência de recursos do povo brasileiro aos banqueiros e rentistas.

Apenas nos governos dos dois últimos presidentes, a dívida interna brasileira aumentou 28 vezes. No começo do governo FHC, era de R$ 61,8 bilhões. Em julho deste ano, no governo Lula, atingiu a cifra de R$ 1,76 trilhão.

De 1995 a 2008, o governo federal gastou R$ 906,6 bilhões com juros e R$ 879 bilhões com amortizações das dívidas interna e externa públicas.

Nesses extraordinários montantes não estão incluídos quase R$ 4 trilhões de rolagem da dívida através da emissão de títulos públicos.

Em 2008, considerando apenas os recursos da União, o país desembolsou 30% de seu orçamento somente com juros e amortizações. Se for computado o valor emitido em títulos públicos para a rolagem da dívida, o total de recursos em um ano é de 47% da arrecadação de impostos.

Mesmo assim, a dívida interna explodiu e a dívida externa continua crescendo. Esse quadro de crescimento contínuo é esclarecedor do impacto desta lógica na política econômica – de encolhimento de recursos para a área social, do sucateamento dos serviços e enxugamento da máquina pública. Isto aumenta a miséria e ainda mais a desigualdade social.

Nosso endividamento é absolutamente deletério para a Nação, pois transformou o país num centro especulativo e plataforma de exportação líquida de capitais.

Seguir sem questionamento com o pagamento da dívida pública, mesmo que ilegal, ilegítima e imoral, tornou-se algo insustentável.

Com os trabalhos da CPI, pretendemos mostrar que, enquanto a dívida pública ocupar o centro da política econômica brasileira, serão necessários superávits primários gigantes em detrimento do social e da infra-estrutura.

Enquanto vigorar este mecanismo cruel, o Brasil continuará pagando taxas de juros siderais, mesmo com uma inflação mais baixa – tudo isso em meio à maior crise econômica vivida pelo capitalismo.

A CPI da Dívida Pública constitui-se um poderoso instrumento para superar esse modelo perverso, rumo a um desenvolvimento sustentável e socialmente justo para o país.

Deputado Ivan Valente (PSOL/SP) é membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e segundo vice-presidente da CPI da Dívida Pública.

Nota do MST sobre CPI protocolada no Congresso Nacional

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16 de setembro de 2009

A força das nossas mobilizações e o avanço das conquistas dos trabalhadores Sem Terra causaram uma forte reação do latifúndio, do agronegócio, da mídia burguesa e dos setores mais conservadores da sociedade brasileira contra os movimentos sociais do campo, em especial o MST, principalmente por conta do anúncio da atualização dos índices de produtividade da terra pelo governo Lula.

Denunciamos que a CPI contra o MST é uma represália às nossas lutas e à bandeira da revisão dos índices de produtividade. Para isso, foi criado um instrumento político e ideológico para os setores mais conservadores do país contra o nosso movimento. Essa é a terceira CPI instalada no Congresso Nacional contra o MST nos últimos cinco anos. Além disso, alertamos que será utilizada para atingir os setores mais comprometidos com os interesses populares no governo federal.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), líderes da bancada ruralista no Congresso Nacional, não admitem que seja cumprida a Constituição Federal de 1988 e a Lei Agrária, de fevereiro de 1993, assinada pelo presidente Itamar Franco, que determina que “os parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados, periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional”.

Os parâmetros vigentes para as desapropriações de áreas rurais têm como base dados do censo agrário de 1975. Em 30 anos, a agricultura passou por mudanças tecnológicas e químicas que aumentaram a produtividade média por hectare. Por que o agronegócio tem tanto medo da mudança nos índices?

A atualização dos índices de produtividade da terra significa nada mais do que cumprir a Constituição Federal, que protege justamente aqueles que de fato são produtores rurais. Os proprietários rurais que produzem acima da média por região e respeitam a legislação trabalhista e ambiental não poderão ser desapropriados, assim como os pequenos e médios proprietários que possuem menos de 500 hectares, como determina a Constituição.

A revisão terá um peso pequeno para a Reforma Agrária. A Constituição determina que, além da produtividade, sejam desapropriadas também áreas que não cumprem a legislação trabalhista e ambiental, o que vem sendo descumprido pelo Estado brasileiro. Mesmo assim, o latifúndio e o agronegócio não admitem essa mudança.

Os setores mais conservadores da sociedade não admitem a existência de um movimento popular com legitimidade na sociedade, que organiza trabalhadores rurais para a luta pela Reforma Agrária e contra a pobreza no campo. Em 25 anos, tentaram destruir o nosso movimento por meio da violência de grupos armados contratados por latifundiários, da perseguição dos órgãos repressores do Estado e de setores do Poder Judiciário, da criminalização pela mídia burguesa e até mesmo com CPIs.

Apesar disso, resistimos e vamos continuar a organizar os trabalhadores pobres do campo para a luta pela Reforma Agrária, um novo modelo agrícola, direitos sociais e transformações estruturais no país que criem condições para o desenvolvimento nacional com justiça social.

SECRETARIA NACIONAL DO MST