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A esquerda unida

Por Plínio Arruda Sampaio

Passado o 2º turno é indispensável que os partidos comprometidos com o socialismo construam juntos condições para a retomada da unidade na ação política. Por Plínio Arruda Sampaio. Foto: Fábio Nassif

Passado o 2º turno é indispensável que os partidos comprometidos com a revolução socialista construam juntos condições para a retomada da unidade na ação política

Se os partidos que compuseram em 2006 a Frente de Esquerda (PSOL, PSTU e PCB) tivessem enfrentado unidos a disputa eleitoral deste ano certamente os resultados eleitorais teriam sido melhores para todas as agremiações e para a esquerda brasileira. As votações das três candidaturas somadas totalizam 1.010.561 votos. Unidos, talvez tivéssemos sido depositários da confiança de mais de 1% da população, para quem mais uma vez ficou a impressão de que a esquerda nunca se une. No Rio de Janeiro, talvez tivesse sido possível ao PSTU eleger o primeiro deputado federal da sua história, ampliando a bancada de esquerda na Câmara dos Deputados. É bem provável que a unidade tivesse permitido ainda eleger mais deputados estaduais, incluindo camaradas do PCB e do PSTU.

Mas os benefícios quantitativos e institucionais da Frente de Esquerda seriam largamente suplantados pelo significado que representaria o passo, por menor que fosse, capaz de fazer avançar a recomposição da unidade da esquerda socialista no Brasil, após o estrago feito pelo aprisionamento das organizações populares no círculo de ferro do “lulismo”.

O resultado eleitoral demonstrou claramente o enorme esforço que a esquerda precisa fazer para colocar o socialismo na agenda política do país. Por isso mesmo, divergências relacionadas com a lógica sectária de defesa dos respectivos aparelhos políticos e de tática eleitoral não deveriam constituir motivo impeditivo da unidade.

Passado o segundo turno da eleição presidencial é indispensável que os partidos comprometidos com a revolução socialista construam juntos condições para a retomada da unidade na ação política preparando os enfrentamentos que certamente virão, seja quem for o eleito. Até a posse do novo governo, em janeiro do ano que vem, o tempo é mais que suficiente para procedermos a uma ampla consulta às bases de cada um dos partidos e iniciarmos conversas regulares entre as três agremiações para afinar as análises da conjuntura, planejar ações conjuntas e definir os parâmetros mais gerais para a retomada de uma frente social e política que seja um instrumento para a mobilização popular. Se isso for feito, será o primeiro passo de recuperação do erro político cometido no primeiro turno.

Nada impede – e é até mesmo salutar – que existam várias agremiações de esquerda. O socialismo democrático não preconiza o partido único. Mas todos os partidos, competindo legitimamente e fraternalmente pelo voto socialista, não podem perder de vista que o adversário é a direita e precisam voltar para essa disputa a energia que se perde na luta fratricida.