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Leonel Camasão comenta criação do PSD em entrevista à Revi

A repórter da Revi Bianca Bittelbrunn produziu uma reportagem sobre a criação do Partido Social Democrático (PSD) e quais os impactos da nova sigla na política local. Nesta reportagem, a repórter submeteu um questionário sobre o assunto para três entrevistados, e eu sou um deles. A entrevista foi publicada na semana passada (clique aqui). Leia a matéria na íntegra abaixo. 
MAIS DO MESMO? COMO SURGEM E MORREM OS PARTIDOS POLÍTICOS
Por Bianca Bittelbrunn
Um partido político é, para a maioria dos eleitores, um reflexo da ideologia dos seus candidatos. Ao menos, teoricamente. A proximidade com o ano eleitoral está aquecendo o cenário político e fomentando novas discussões partidárias. Recentemente, pudemos assistir à decadência do partido Democratas, com apenas quatro anos de história, e o nascimento de uma outra sigla, o Partido Social Democrático. Em todo o Brasil, candidatos começaram o troca-troca.O eleitor terá menos de um ano para decifrar esse complexo quebra-cabeças.
São pelo menos 27 partidos políticos registrados oficialmente no Tribunal Superior Eleitoral. A socióloga Valdete Daufemback Niehues explica que a população está cada vez mais desacreditada nos partidos, o que facilita o surgimento de novos. Segundo ela, grupos com interesses econômicos e políticos tendem a dominar o poder e deixar a sociedade à sua mercê, ao invés de defender os interesses dela. “Os partidos políticos estão ficando líquidos, adequando-se aos ambientes e objetivos de grupos interesseiros e, por isso, nem fazem história”, disse.
O recente surgimento do PSD é um tanto contraditório, como analisa Valdete. O Partido Democrático Social (PDS) foi anterior ao governo militar. Ele foi uma consequência de outros partidos, quando havia apenas os extintos Arena e MDB, que hoje dão nova roupagem a outros grupos. “São apenas interesses ativos.Com o tempo, as siglas vão mudando a qualidade dos seus aliados”, afirma a socióloga.
Quais os motivos que levam à criação de um novo partido? Para Valdetem a resposta está no jogo de interesses econômicos, político e status social, principalmente. Os candidatos que estão se aliando ao PSD são forças políticas muito conhecidas, principalmente na cidade. No entanto, na visão de Valdete, não haverá muita diferença para os catarinenses: “Vai haver uma mobilização política muito forte, com somas financeiras e articulações políticas. A intenção deste partido é unir forças para tirar do poder os que ali estão, a oposição”, declara. Mas ela alerta para o efeito “meteoro”: “Eles nascem, aparecem rapidamente e podem se dissolver como o DEM, que já acabou e nem fez história”.
O doutor em Sociologia Política e e autor do livro “Introdução à sociologia política”,( editora Vozes), Carlos Eduardo Sell, acredita que o passado do PSD em suas diferentes nomenclaturas impossibilitou ao eleitor reconhecer a identidade do partido. “O partido, oriundo da direita brasileira, transmutou-se tanto até perder sua identidade”, ressalta.
Para Carlos, várias indagações permanecerão no ar, porque não há como identificar o perfil e a importância do partido. Ao mesmo tempo que poderá ser um fruto das ambições de seu fundador, Gilberto Kassab, também poderá ser o refúgio da oposição ao governo. 
O professor conta que esta movimentação partidária já trouxe mudanças para Santa Catarina, com a saída do governador Raimundo Colombo, ex-DEM, para integrar o PSD. Além de muitos deputados, prefeitos e vereadores o acompanharam. Questionado sobre os cuidados que a população deve tomar ao votar em um candidato, Sell propõe algo menos radical. “ Não creio que estejamos diante de mudanças de perfil ideológico. O fenômeno PSD é fruto do mero oportunismo político e mostra a fragilidade do sistema partidário brasileiro”, declarou.
O sociólogo e comentarista político, Charles Henrique Voos, explica que, no Brasil, um partido político é apenas uma porta de acesso ao poder. A falta de confiança em uma sigla faz com que os eleitores votem em representantes, ao invés na ideologia do partido. Ele explica que a tendência é que os nomes levem os votos, não suas legendas. 
Ele também critica o DEM por suas freqüentes mudanças de nome, provavelmente para esconder um passado manchado pela ditadura militar. “Os nomes mudaram, mas as práticas e os líderes sempre foram os mesmos”, declara. 
Mas como confiar em um candidato defensor de uma determinada ideologia que muda drasticamente de legenda? Segundo Charles, é aceitável que um candidato sem mandato procure a legenda que mais lhe pareça favorável e mude quantas vezes for necessário. A lei determina que um candidato que possua mandato não pode mudar de partido, embora existam maneiras de burlar esta ordem. Ele alerta para que a população se atente ao discurso de fidelidade partidária, pois a única dominante é a fidelidade mandatária, detentora de todo o poder. E completa: “A população deve se voltar primeiramente a leis como essas, cortando o mal pela raiz. A preocupação das pessoas deveria ser com as estruturas, e não com as práticas”.
Confira as entrevistas completas
Áudio com Valdete Daufemback Niehues