Arquivo da categoria: Movimento Passe Livre

1ª Bicicleata contra a tarifa hoje em Florianópolis

A Frente de Luta pelo Transporte Público convida todos a participar da 1ª Bicicletada Contra a Tarifa nesta quinta-feira (24), com saída da Concha Acústica na UFSC. No primeiro ato deste ano, além da bicicletada haverá confecção de camisetas da Frente com stencil e tela para os interessados, então tragam camisas lisas. A concentração começa às 16h e a bicicletada sai às 18h. Em caso de chuva, o evento será adiado.

Venha participar deste ato em prol da mobilidade urbana e contra o aumento previsto nas tarifas de ônibus, que podem chegar a R$3,14. Traga sua bike, patins, patinete, o que quiser!
Vem pra luta, vem!
Chega de tarifa!
O quê: Bicicletada Contra a Tarifa
Onde: Concha Acústica da UFSC
Quando: Quinta-feira, dia 24, a partir das 16h

Fonte: Frente de Luta Pelo Transporte Público

"Tuitaço" Nacional contra o aumento das tarifas de ônibus é um sucesso

O “tuitaço” nacional contra o aumento das tarifas de ônibus nas cidades brasileiras foi um sucesso. Iniciado nessa sexta-feira, às 10 horas da manhã, a tag #contraoaumento logo foi parar no topo dos assuntos mais comentados do Twitter no Brasil e até no mundo. Até o momento, a tag permanece no topo dos assuntos mais comentados no Brasil.

A campanha foi iniciada por vários coletivos do Movimento Passe Livre, apoiadores, entre outros, indignados com os aumentos nas tarifas de ônibus em pelo menos 16 cidades brasileiras, entre elas, Joinville.

"Impasse" terá lançamento nesta quinta-feira na UFSC – Veja Trailer

Será lançado no dia 16 de setembro, às 19h30min, no auditório da Reitoria da UFSC, o documentário Impasse, sobre as manifestações dos estudantes contra o aumento da tarifa do transporte coletivo em Florianópolis.

Além de cenas que não foram exibidas em nenhuma tevê, incluindo flagrantes de violência durante os atos públicos ocorridos em maio e junho deste ano, o documentário revela o que pensam usuários, trabalhadores, especialistas e empresários do transporte. Expõe as contradições e as diferenças de posição dos estudantes e dos representantes dos governos municipal e estadual.

O candidato a deputado federal Leonel Camasão (PSOL), que integrou o Movimento Passe livre durante quatro anos, estará presente para a estreia em Florianópolis.

Porque apóio a chapa "Práxis" para o DACS

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Leonel Camasão*

O movimento estudantil do Bom Jesus/Ielusc passa, mais uma vez, pelo momento de disputa no comando do Diretório Acadêmico de Comunicação Social (DACS). Na próxima segunda-feira, dia 23, os alunos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda deverão escolher entre duas chapas: Práxis e Dacs é pra lutar.

Estudei por quatro anos e meio no Bom Jesus/Ielusc, e participei ativamente do movimento estudantil da instituição. Junto a outros companheiros, estivemos por um ano reconstruindo o DCE do Ielusc, que estava abandonado, assim como o DACS.

Mais de um ano depois de sairmos do DCE, novos alunos se interessaram em reativar o DACS. Obviamente, a reconstrução a partir do zero gerou muitas dificuldades.

Ainda no ano passado, em eleição de chapa única, o grupo se reorganizou com novas pessoas, e uma das principais propostas era transformar o DACS em uma entidade que funcionasse sobre o princípio da direção coletiva, integrando os alunos, promovendo a participação de todas e todos. Nesse sentido, Francine Hellmann foi eleita presidente junto com outros companheiros, a fim de levar essa tarefa.

Na hora de aplicar a medida, teve gente que mudou de opinião e quis manter a hierarquia no movimento estudantil, o que foi negado amplamente pela maioria do grupo.

Isso não veio a prejudicar a atuação da atual gestão no movimento pela redução das passagens de ônibus, nos debates promovidos junto a diversos segmentos, na realização da Semana Acadêmica e, mais recentemente, na organização e participação na 1ª Conferência Municipal de Comunicação, onde aprovamos um conjunto de diretrizes extremamente avançadas.

Todos esses movimentos tiveram a participação ativa e fundamental de camaradas da chapa Práxis, como Alexandre Perger, Emanuelle Carvalho, Felipe Silveira, Jéssica Michels, Marcus Vinícius Carvalheiro, entre outros. Esse grupo, além de muito atuante, mantém a proposta sob a qual a chapa Consciência foi eleita em 2008 – construir um movimento estudantil democrático e independente, nas bases da direção coletiva, da participação e do diálogo com outros segmentos sociais.

Com toda a certeza, esse grupo vai discutir junto com os alunos se o DACS deve ou não participar dos espaços institucionais do movimento estudantil estadual e nacional. Como se sabe, a eleição de delegados para congressos da UCE e da UNE não costuma ocorrer de maneira transparente em todo o Brasil, e nisso, podemos ser diferentes.

A chapa Práxis traz as qualidades e a experiência de quem está na luta há tempos, ao mesmo tempo em que traz sangue novo e disposição para construir vitórias no movimento estudantil ielusquiano.

Nada pessoal contra aos companheiros da outra chapa, pelo contrário: a maioria são amigos e colegas dos tempos de faculdade. Mas acredito que a participação direta de dois assessores de um vereador em uma chapa prejudica a independência do DACS.

Várias administrações desse grupo em outras entidades do movimento estudantil de Joinville mostram que não há intenção de construir um projeto coletivo junto aos estudantes, mas sim, impor um projeto “estrangeiro”, que, apesar de legítimo, já está pronto, fechado, sem abertura.

Por isso, presto meu total apoio e solidariedade aos companheiros da chapa Práxis, com votos de muita sorte, muita luta e muitas vitórias no próximo período.

Abraços fraternos a todos e todas.

*Ex-aluno de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc. Militou por cinco anos no Movimento Passe Livre (2005-2009) e foi presidente do Diretório Central dos Estudantes Florestan Fernandes (2005-2006) na gestão Domínio Público.

"Ficou a ideia" – Entrevista com Luiza Erundina

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Na tarde do dia 9 de setembro, Luiza Erundina recebeu a equipe, digamos, do TarifaZero.org na casa que lhe serve de base, de escritório, em São Paulo, para conversar sobre a política de transporte coletivo que marcou – ou deveria ter marcado – seu governo.

Muito do reconhecimento de Erundina na política se deve pela experiência de governar a cidade de São Paulo entre 1989 e 1993. Era a primeira vez que o PT chegava ao poder executivo de uma megalópole e Erundina trazia consigo novos ares para a política nacional. Mulher, nordestina, com um histórico de lutas em movimentos sociais, ela precisou vencer resistências até mesmo dentro do partido. Eleita, montou um governo repleto de nomes de peso, como Paulo Freire, Marilena Chauí e Paul Singer, adotando como lema a idéia de “inversão de prioridades”. Ou seja, a compreensão de que era necessário redirecionar as políticas para aqueles que mais necessitavam delas. Aquele governo entrou para a história também como o responsável pela promoção de políticas como os mutirões autogeridos (para equacionar o déficit habitacional), e pelos projetos de alfabetização de adultos (os Movimentos de Alfabetização).

Mas, por algum motivo ainda a ser descoberto, uma das idéias mais inovadoras de seu governo não entrou para a galeria dos feitos mais conhecidos: o Projeto Tarifa Zero, fomentado pela equipe da Secretaria de Transportes, cujo titular era o engenheiro Lúcio Gregori. É sobre este projeto que Erundina fala nesta entrevista, com muita clareza e um pitado de decepção por conta da derrota política que o projeto foi submetido, embora tenha alcançado altos índices de aprovação popular.

Essa aprovação é o que a faz acreditar ainda ser possível a aplicação da idéia da tarifa zero. Para Erundina, “se não foi vinte anos atrás, será um dia. A história dá saltos. O importante é você apostar em idéias que são inovadoras e acumular forças. Passa pela vontade popular. Dom Tomás Balduíno já dizia que o novo o povo é que cria”.

Tarifa Zero.org: Para te explicar: nós temos este site, chamado tarifazero.org, que é consequência da luta que a maioria de nós trava há alguns anos através do Movimento Passe Livre. Não é um site do movimento, mas nasceu para divulgar a idéia que foi, de certa forma, inspirada na experiência que vocês desenvolveram no governo em São Paulo. Como era a conjuntura do governo do início até chegar o momento da idéia da tarifa zero? Como nasceu dentro do governo essa idéia da tarifa zero?

Luiza Erundina: Olha, primeiro: a questão do transporte e do trânsito na cidade de São Paulo foi sempre um problema muito difícil, complexo, desafiador. Não foi diferente na nossa época, até porque nós tínhamos a CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos), que respondia, ou deveria responder, por 30% do transporte de ônibus da cidade e nós encontramos a completamente sucateada. A frota envelhecida, deteriorada, estoques zerados. Basta dizer que havia um único pneu no estoque, no depósito, e esse pneu estava careca. Praticamente 30% do conjunto do sistema não funcionava.

Tarifa Zero.org: A senhora lembra o tamanho da frota da CMTC?

Luiza Erundina: Eram três mil ônibus. Deveriam operar três mil ônibus, que seria 30% da frota da cidade. Mas estava muito reduzida, com muitos problemas. Além disso, havia uma má vontade dos fornecedores de peças, de acessórios e aqueles elementos que eram necessários para manter a frota. E a frota privada não é que estivesse bem não. Também estava envelhecida, deteriorada. Serviço de baixíssima qualidade e muito caro. Era um serviço muito caro. Foram muitos problemas e não só em relação às políticas de transporte e trânsito. Mas, particularmente, com transporte nós enfrentamos muitos problemas. Começamos a tentar alternativas. Por exemplo, a questão, da municipalização, no sentido de mudar os termos de contrato da prestação do serviço de transporte. E nós tínhamos minoria na Câmara. Nós governamos quatro anos com minoria na Câmara. E qualquer modificação dessas normas de contratos com as empresas, com os empresários, exigia a aprovação de um projeto de lei. Nós não tínhamos maioria para aprovar esses projetos. Muita má vontade.
E só no terceiro ano é que nós conseguimos aprovar a lei de municipalização, que permitia que se remunerasse o serviço não por viagens realizadas, mas também por quilômetros rodados. Foi uma medida que melhorou a qualidade do transporte, uma outra lógica que passou a reger essa relação contratual e significou, inclusive, a redução do número de passageiros por metro quadrado dentro dos ônibus. Significou melhor qualidade e redução de custos pro usuário e evidentemente a Prefeitura teve que arcar com um subsídio maior das tarifas. Era o único meio que se tinha de melhorar a qualidade do serviço. Um serviço essencial. Não é que o usuário precisa desse serviço apenas em alguns momentos do dia. Pelo contrário, todos dependem.
Na época eram mais de seis milhões de usuários que dependiam do transporte de ônibus. O metrô era muito mais limitado do que é hoje em termos de linhas. Portanto, era um transporte que representava muito mais do que hoje, do ponto de vista do transporte de massa. E entre outras medidas que o setor de transporte bolou – particularmente Lúcio Gregori [secretário de Transporte] e sua equipe, o Mauro Zilbovicius, o José Jairo Varoli, enfim, os companheiros que integravam a equipe de transporte e trânsito –, havia uma idéia de se ter um Fundo de Transporte para o qual não contribuiriam só a Prefeitura, mas também os empresários. Os que mantinham os negócios na cidade, sistema de bancos, de supermercados, de shoppings, enfim, os que deveriam também participar dos custos desse serviço, já que é um insumo dos negócios. Eles dependiam do trabalhador para ir e voltar para o trabalho. Seja Shopping Center, supermercado, banco, as lojas de um modo geral.
Era justo que os custos desse serviço, no mínimo, fossem repartidos em três partes. Um terço da Prefeitura, um terço dos usuários e um terço dos empresários, aqueles que de certa forma se beneficiavam desse serviço, como meio de transporte dos seus trabalhadores, dos seus empregados. E esse Fundo exigia uma outra lei que a Câmara se recusou a aprovar. Houve uma campanha contra essa proposta. O próprio Partido dos Trabalhadores, que era o partido ao qual eu estava filiada como prefeita, também não entendeu a proposta, resistiu a ela. Mas foi essa a idéia. É um serviço ao qual todos se beneficiam e não é justo que só o usuário banque com os custos desse transporte, no caso a tarifa. E também deixar tudo isso como subsídio da Prefeitura era onerar também o usuário, o trabalhador de um modo geral, porque no fundo o recurso público vem do quê? Dos tributos. Se se destina mais subsídio para o transporte, você reduz algum investimento em saúde, em creche, em habitação. Portanto, o serviço público, a fonte de receita dele é o contribuinte, todos que vivem na cidade, trabalham na cidade, produzem na cidade. Então nós entendíamos que seria absolutamente justo estabelecer um Fundo para o qual todas as partes interessadas num bom serviço de transporte pudessem contribuir. E isso a meu ver, a nosso ver, era uma medida justa, uma medida de distribuição dos custos e uma condição para se melhorar o transporte, que é essencial para vida da cidade. Mais essencial, mais importante naquele momento do que hoje, provavelmente.

Tarifa Zero.org: Como foi o momento de tensão entre governo e o PT? Essa falta de compreensão à idéia foi do partido como um todo, da bancada na câmara, como era?

Luiza Erundina: Havia um movimento na cidade, não só da parte do partido, de outros partidos, da cidade como um todo, numa visão equivocada, dizendo que seria um serviço gratuito e, como tal, todo mundo ia abusar do uso. Consequentemente viraria um caos, ia piorar a qualidade do serviço. Toda idéia inovadora, criativa, revolucionária em certo sentido, gera resistência. Às vezes uma resistência equivocada, às vezes de má fé. E eu tive uma dificuldade com a Câmara com relação ao transporte porque eles sabiam que, à medida que a gente conseguisse melhorar esse serviço, aliado ao planejamento do tráfego e do trânsito, isso geraria dividendos políticos e eleitorais, já que em quatro anos do meu governo houve três eleições: uma para presidente da república, outra para governador e outra para o meu sucessor. Tudo isso numa relação entre os dois poderes bastante tencionada, porque nós não tínhamos aquela prática fisiológica, promíscua que normalmente existe na relação do Executivo com o Legislativo, sobretudo a história da Câmara Municipal de São Paulo e da Prefeitura de São Paulo. Nunca foi uma história muito bonita do ponto de vista da independência dos dois poderes, de um rigor ético na relação entre os dois poderes. E tudo aquilo que se tentava criar de novo, uma inovação, algo criativo, algo diferente daquilo que tradicionalmente se fazia em relação a esse setor [de transporte] era visto com má vontade, má fé, má intenção e isso evidentemente inviabilizou a proposta. Encaminhamos a proposta pra Câmara e a Câmara rejeitou o projeto. E hoje a gente sabe que é uma idéia que está sendo incorporada, cogitada, reapropriada por muitos governos. Até porque não é uma questão tão inusitada, já que em outros países do mundo a divisão dos custos do transporte é uma coisa que já se faz há muito tempo. Só que nós tivemos resistência, dificuldade e, lamentavelmente, não conseguimos implantar essa idéia inovadora, bastante criativa que se tentou implantar na cidade naquele momento.

Tarifa Zero.org: Numa conversa que fiz com o Lúcio Gregori, ele contou sobre o entusiasmo que tu tinhas na época ao imaginar que os movimentos sociais poderiam se apropriar desta idéia e reivindicá-la. O PT tinha uma influência muito forte nos movimentos naquele período, mas como foi? Tinha movimentos sociais reivindicando a tarifa zero?

Luiza Erundina: O problema é que, quando se conseguiu construir essa proposta, faltavam poucos meses para se fechar o orçamento da cidade. O Executivo é quem manda o projeto de lei orçamentária e, se não me engano, restavam três ou quatro meses anteriores ao prazo legal para apresentar o projeto na Câmara. Portanto, não houve tempo suficiente para se esclarecer esses setores que, não por má vontade, mas por desconhecimento, por não ter domínio da proposta no seu todo, evidentemente ficavam desconfiados, inseguros, em dúvida.
Tarifa Zero.org: Mas a população aprovou.

Luiza Erundina: A população aprovou. Só que nós não conseguimos acumular força política, pressão externa ao Legislativo… e a mídia também. O problema é que tivemos o cerco da Câmara tivemos também com a mídia. Talvez a gente não tenha sido muito competente na relação com a mídia. Até porque nós tínhamos muito rigor, muita preocupação em não extrapolar os investimentos em comunicação, em publicidade, em propaganda. Porque as carências na cidade eram tão grandes, como é que iríamos…

Tarifa Zero.org: Desperdiçar.

Luiza Erundina: Num certo sentido. Vendo de fora, a uma certa distância e fazendo autocrítica, talvez a gente pudesse ter construído aquela relação. Não com os donos dos veículos de comunicação, mas com os jornalistas, os trabalhadores da mídia. Se a gente tivesse tido talvez mais flexibilidade, não no sentido de ceder às práticas antiéticas, desonestas, corruptas, absolutamente, mas talvez se a gente tivesse uma política de comunicação mais flexível, mais aberta, mais política no sentido do positivo do termo, a gente tivesse… não evitado o cerco da mídia, a má vontade da mídia, perseguição, eles faziam campanha contra o nosso governo. Alguns trabalhadores da imprensa, jornalistas que eram próximos à gente e simpáticos ao nosso governo, nos diziam que eles tinham reuniões diárias com os coordenadores das matérias para saber o que é que dava para bater na prefeita, para bater no governo, para criticar o governo. Havia também um boicote permanente dos empresários, dos fornecedores dos bens que a gente precisava para prestar o serviço à cidade e foram quatro anos de muito bloqueio, muita má vontade, muito boicote e de muita perseguição política da mídia, dos partidos políticos, inclusive o meu na época e dos outros dois níveis de governo. Tivemos dois governadores. Primeiro Quércia, depois Fleury, na presidência da república o Sarney, depois o Collor. Enfim, não tinham nenhuma simpatia nem boa vontade com São Paulo – não estou dizendo com nosso governo. Isso tudo explica aquela conjuntura e as dificuldades que enfrentamos, não só em relação a essa questão. Mas ficou a idéia. E quando a idéia é boa, quando a idéia é correta, justa, necessária, oportuna, ela vinga. Mesmo se não vingar naquele espaço, naquele tempo, naquele governo, mais cedo ou mais tarde vai vingar. Em algum momento, em algum lugar, em algum espaço mais democrático, mais compreensivo. Numa conjuntura mais adequada do que foi aquela em que nós tentamos implantar essa idéia na cidade de São Paulo.

Tarifa Zero.org: A senhora disse que essa falta de compreensão por falta da mídia e dos partidos que eram contrários à idéia da tarifa zero pode ter um pouco de preconceito de classe? Em não querer admitir que todas as pessoas na cidade, as pessoas mais pobres, possam se locomover por todos os espaços nela?

Luiza Erundina: Com certeza. É o preconceito de que o pobre não é civilizado, não é educado, não vai entender os limites do uso de um serviço público. O pobre sabe fazer isso melhor do que o rico que nunca fez, não precisa usar isso. E a carga de preconceito que havia contra meu governo, contra mim pessoalmente. Mulher, nordestina, do PT, de esquerda, independente, que não cedia a nada do ponto de vista do que era ético, justo para a cidade, do que era correto. Eu era vista como alguém que atrapalhava os interesses dos privilegiados, dos que sempre tiveram controle do Estado, da Prefeitura. No Estado patrimonialista o Estado é de uma classe, ou de um segmento dessa classe. Conseqüentemente, tudo que vier no sentido de destinar os meios, recursos, a ação do Estado para incluir a maioria excluída, os trabalhadores que geram e produzem a riqueza da cidade… Então, isso tudo, as empreiteiras, todo mundo muito revoltado porque seus interesses estavam, no mínimo, sob controle de um governo que não fazia concessões do ponto de vista ético. Diferentemente de outros governos que nos antecederem e nos sucederam, no superfaturamento de obras e das compras. Isso acabou não existindo no nosso governo e atingiu o interesse de muita gente. E essa muita gente é uma gente poderosa. O poder da mídia, o poder sobre os representantes da cidade, a Câmara municipal. Tudo isso explica o fato de não termos conseguido implantar uma política tarifária moderna, avançada e justa, como seria esta proposta.

Tarifa Zero.org: A senhora deve acompanhar esses debates, embora ainda tímidos, sobre problemas de tráfego na cidade, a poluição. E a questão do transporte coletivo parece estar tendo mais atenção. O que a senhora acha dessa idéia da tarifa zero hoje? Ela poderia vingar até mesmo neste contexto?
Luiza Erundina: Depende da estratégia que se use para isso. Eu acho que hoje, talvez com o agravamento do trânsito, do transporte, os custos do sistema que a cada dia cresce… Porque quando o trânsito não flui é desperdício de combustível, deterioração da frota, mesmo individual. Enfim, as prioridades de investimento tendem a se alterar. Ao invés de construir tanto túnel, tanto viaduto, tantas vias expressas para favorecer o fluxo de automóveis, se inverta essa tendência e se invista em outro tipo de infra-estrutura urbana, com vista ao transporte de massa, o transporte coletivo, a integração entre os vários sistemas. Um planejamento da cidade que atente para outra lógica que não essa em que todo o fluxo do tráfego e trânsito flui para o centro da cidade.

Tarifa Zero.org: Descentralizar o serviço público?

Luiza Erundina: Exatamente. Não só descentralizar, mas distribuir o fluxo de tráfego a partir de outro planejamento. Que as regiões tenham seu planejamento próprio integrado às outras regiões, guardando entre si uma certa lógica, uma certa racionalidade, para reduzir fluxos, para reduzir custos, para reduzir tempo, para dar uma inteligência maior ao fluxo de tráfego e de trânsito. Nós tínhamos já o entendimento disso há vinte anos, só que nós não tínhamos condições políticas, força política, correlação de forças na sociedade. Porque o fato de nós termos sido eleitos pela maioria da população pobre e trabalhadora da cidade… O nível de organização política e a participação política desse segmento não eram, naquele tempo, suficientes, nem hoje também, para respaldar um governo que de fato invertesse toda lógica que predominava na vida da cidade em relação a tudo. Que era sempre o interesse de uma minoria contrariando o interesse da maioria, em todos os aspectos da política de governo local, estadual e nacional – que não tinham boa vontade com relação a uma ação partilhada, articulada com o governo municipal. Mas, apesar disso, nós tivemos a ousadia, a coragem, modéstia parte, a competência. Era uma equipe muito competente, muito criativa, idealista, corajosa, ousada e que deixou marcas…

Tarifa Zero.org: E foi a senhora quem puxou o Lúcio, não? Ele estava em outra Secretaria, a de Serviços e Obras, apesar de ter tido uma experiência com transporte público quando trabalhava para o Metrô.

Luiza Erundina: Pois é, mas ele é uma pessoa muito inteligente, muito capaz. Diria até que tem uma certa genialidade. Onde ele tocava a mão, dava certo. Onde o governo tinha dificuldades, chamava o Lúcio. Chamava o Sandroni, que era outro companheiro. Havia uma disponibilidade muito grande desses companheiros de ajudar o governo no que fosse. O Sandroni também não era do transporte e veio nos ajudar, com o Lúcio, na CMTC, enfim, em outras áreas. Era uma situação, do ponto de vista do governo, privilegiada, pela qualidade dos assessores, do secretariado, da boa vontade. A disponibilidade desses companheiros, dessas companheiras, para enfrentar aquela guerra, que foi a cidade aceitar a decisão da maioria dos eleitores de ter nos colocado a frente do governo da cidade. E eles achavam que a gente não ia dar conta, não acreditavam na nossa competência, apostavam no fracasso, apostavam que já no primeiro ano…

Tarifa Zero.org: O próprio partido?

Luiza Erundina: Não tanto assim, mas não acreditava. Até porque eu não era candidata do stablishment da direção partidária. O partido não acreditava que eu fosse capaz de conduzir uma equipe. Eu não governei sozinha, governei com uma equipe daquele patamar.

Tarifa Zero.org: Com quem a senhora disputou?

Luiza Erundina: Era Plínio de Arruda Sampaio. Eu entendo que o partido tinha uma avaliação… O partido, digo, a direção, porque foram às bases do partido que me impuseram como candidata numa prévia. Foi à primeira prévia que se fez num partido político para escolher uma candidatura. E o partido tinha uma avaliação… a direção partidária tinha uma avaliação que até tinha lógica. Plínio era homem, paulista, de família tradicional, com uma trajetória política bastante avançada, progressista, democrática, de esquerda. Certamente, dentro da lógica eleitoral e política daquele tempo, o nome de uma pessoa com o perfil do Plínio tinha muito mais chance de ganhar e governar a cidade do que eu. Mas as bases do partido pensaram diferente, apostaram numa outra candidatura que não aquela com o perfil que é imposto pela cultura política tradicional, conservadora, elitista e terminou dando uma zebra, nós ganhamos o governo da cidade. O partido ficou muito desgostoso com isso porque também tinha a mesma avaliação que os adversários em relação à minha pessoa. Achavam que eu não era capaz, que eu era agitadora, só. Claro que a minha militância política foi marcada por muita contundência, por muito compromisso com a luta do povo, com a luta social, com a luta política. Eu vim do nordeste expulsa pela ditadura militar, perseguida pela ditadura e aqui em são Paulo não foi diferente. Eu assumi de novo o compromisso de ajudar o povo a se organizar, a tomar consciência dos seus direitos, a lutar por eles. Então eu não era uma candidata de bom gosto para a elite paulistana, para a classe média paulistana, e o partido, que tinha toda razão de querer ganhar a prefeitura de São Paulo… e o cálculo naquele momento é que não era tão fácil assim, sobretudo contrariando a lógica de uma cultura político-eleitoral conservadora, de direita. Uma candidatura com o perfil como o meu era, de fato, uma aposta bastante arriscada. Mas a história se conduz de forma diferente daquilo que essas pessoas… esses segmentos que dominam a cidade e a sociedade e impõem a sua verdade.

Tarifa Zero.org: A senhora acha que seria possível construir hoje essa idéia da tarifa zero, lutar pelas questões do transporte, sem uma movimentação popular?
Luiza Erundina: Não, temos que mobilizar. Mais do que isso, não é só mobilizar os setores populares, é também fazer um trabalho de opinião pública, no sentido de traduzir os aspectos técnicos dessa proposta, da inteligência que ela contém nela mesma. Talvez devêssemos todos nós, não só vocês que estão empenhados nessa bandeira, ampliar esse arco de alianças e de forças políticas e de interessados em conhecer melhor essa proposta. Para ver se ela se torna de fato uma política pública não só apenas de uma cidade, nem só de um estado, mas do país. Talvez fosse a hora de se trazer o debate, por exemplo, para uma comissão da Câmara dos Deputados, trazer o debate para o Congresso Nacional. Trazer os especialistas e os não-especialistas, os favoráveis e os não-favoráveis à proposta e colocá-la na agenda do país para debate. Já que o problema do transporte e do trânsito, sobretudo no transporte coletivo de massa, ainda é um desafio que não se resolveu, muito menos nas grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife etc. Talvez se devessem juntar todas as forças que estão apostando a favor ou contra a essa idéia para colocá-la em debate na opinião pública, trazendo junto os trabalhadores, assalariados, usuários, setor empresarial, setor de transporte, governos das três esferas. Vamos discutir! E vamos, quem sabe, conseguir, agora com uma condição, outra conjuntura, fazer valer uma idéia tão genial, na minha avaliação, tão criativa e tão justa no ponto de vista da maioria, que são os que dependem do transporte coletivo, transporte de massa, sobretudo em cidades grandes como São Paulo. E quero me colocar à disposição dessa luta. Quem sabe a gente possa planejar um debate lá na Câmara dos Deputados. Eu sou uma entusiasta dessa idéia, acho que é uma pena… E outras idéias que o governo teve na época. Era uma equipe muito boa. Era Marilena Chauí, era Paul Singer, Paulo Freire, Lúcio Gregori, Paulo Sandroni, uma equipe muito boa, muito competente, muito corajosa. Mas a gente chega lá um dia. Se não foi vinte anos atrás, será um dia. A história dá saltos. O importante é você apostar em idéias que são inovadoras, apostar nelas, e acumular forças. Passa pela vontade popular. Dom Tomás Balduíno já dizia que o novo o povo é que cria. E é mesmo. Não somos nós que temos algum nível de responsabilidade, de autoridade. É o povo junto que dá condições para, né?

Fran deve chegar ao Dacs amanhã

Foto: Arquivo Pessoal

A estudante de jornalismo Francine Hellmann deve chegar à presidência do Diretório Acadêmico Cruz e Souza (Dacs) amanhã, durante as eleições no Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc. Pedro Tadeu Vexani, que faria a segunda chapa na disputa, desistiu de concorrer.

Com eleição em chapa única, a chapa “Consciência” precisa apenas garantir metade dos votos do curso (cerca de 200) para ser homologada como próxima diretoria do Dacs.

A chapa apresenta um perfil claramente de esquerda. Francine é assessora parlamentar do vereador Adilson Mariano (PT). Emmanuelle Carvalho, outra componete do grupo, é assessora de imprensa do Centro de Direitos Humanos. Outros membros participam/participaram de movimentos autônomos, como o Movimento Passe Livre (MPL), Centro de Mídia Independente (CMI), entre outros.

Veja mais sobre as eleições do Dacs aqui.

Sobre o autor


Leonel Camasão, 23 anos, é jornalista formado na Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc, de Joinville. Escreve regularmente neste blog desde 23 de maio de 2008.

Atualmente, é assessor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano, Rodoviário, Turismo, Fretamento e Escolar de Florianópolis e Região (Sintraturb). Responde também pela Secretaria Geral do PSOL em Santa Catarina.

Trajetória profissional

Seu primeiro emprego como jornalista foi no semanário Gazeta de Joinville, onde cobriu o 24º Festival de Dança de Joinville (2006). Posteriormente, foi estagiário de A Notícia, na sucursal de Jaraguá do Sul, no ano de 2007.

Teve duas passagens curtas pelo jornal Notícias do Dia, entre janeiro e abril de 2008 e entre fevereiro e abril de 2009. Sua principal experiência em jornalismo impresso ocorreu no jornal A Notícia, onde foi repórter de política entre maio e dezembro de 2008, cobrindo todo o processo eleitoral que culminou com a vitória de Carlito Merss (PT) para a prefeitura de Joinville.

No jornalismo impresso, suas principais áreas de atuação são Política, Geral e Variedades.

Na área de assessoria de imprensa, já colaborou voluntariamente com o Movimento Passe Livre (MPL), Centro de Direitos Humanos (CDH), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de ter organizado palestras e eventos. Ainda na faculdade de jornalismo, foi estagiário do Núcleo de Estudos em Comunicação (2004-2005), da Revista Virtual (2006-2006) e do Coral do Bom Jesus/Ielusc (2005-2008).

Trajetória política

Em 2005, entrou para o Movimento Passe Livre de Joinville, onde militou por quatro anos. No mesmo ano, presidiu o Diretório Central dos Estudantes Florestan Fernandes na gestão Domínio Público (2005-2006), no Bom Jesus/Ielusc. Dentre as principais ações, destaque para a realização de debates sobre transporte coletivo, e do Festival Latino Americano da Classe Obreira, festival itinerante de documentários políticos que viajou o país em 2006.

Em 2008, filiou-se ao Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz, de Joinville, (em outubro) e ao Partido Socialismo e Liberdade (dezembro). Em 25 de julho de 2009, foi eleito membro da Executiva Estadual do PSOL. Em setembro do mesmo ano, entrou para a Ação Popular Socialista, tendência interna do PSOL.

Se filiou à Associação Arco-íris de Joinville em 13 de agosto de 2009. Em fevereiro de 2010, foi eleito membro do Conselho Fiscal da Entidade. Também é filiado ao Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC) desde março de 2010.