Arquivo mensal: junho 2010

Adolescente de 14 anos assassinado no Rio de Janeiro. Motivo provável? Homofobia.

Polícia Civil apresenta acusados de matar adolescente em São Gonçalo

Grupo foi autuado por homicídio e encaminhado para a Polinter de Neves. Segundo policiais, eles teriam cometido o crime por acharem que vítima era homossexual

Os três jovens acusados pelo assassinato de Alexandre Thomé Ivo Rajão, de 14 anos, encontrado morto com sinais de estrangulamento e espancamento, foram apresentados na 72ª DP (Mutuá), nesta quinta-feira.

De acordo o titular da delegacia, Geraldo Assed, o eletricista Allan Siqueira de Freitas, o brigadista Eric DeBruim, ambos de 22 anos, e o açougueiro André Luiz Marcoge da Cruz Souza, de 23, foram autuados por homicídio e encaminhados para a Polinter de Neves. Se o crime for comprovado, os três poderão pegar de 12 a 30 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado e motivo torpe.

O corpo de Alexandre foi encontrado em um terreno baldio no Jardim Califórnia, em São Gonçalo, na última segunda-feira.

Segundo a polícia, os acusados teriam cometido o crime por se identificarem com a cultura skinhead (que prega a xenofobia, homofobia e ideologia neonazista) e acharem que a vítima seria homossexual.

Fonte: Jornal O Fluminense

Valmir Martins é o candidato do PSOL ao governo de Santa Catarina

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O professor de História Valmir Martins (à esquerda) foi indicado neste sábado (26) para concorrer ao governo de Santa Catarina pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O nome foi aprovado por unanimidade na convenção realizada no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), após a retirada do nome do outro postulante, o também professor Marcos Alves Soares, de Joinville, que ficará na vaga de vice.

A convenção do PSOL também indicou 14 nomes para a Alesc e outros quatro para a Câmara Federal. O partido espera ainda uma resposta do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que definirá sua política de alianças neste domingo, durante sua convenção nacional. Também foram indicados os nomes ao Senado, mas a definição das candidaturas esperará a resposta do PCB.

Quem é Valmir Martins

Valmir Martins é professor aposentado do departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É formado em História pela UFSC (1974), onde também concluiu o Mestrado na mesma área (1979). Aos 66 anos – 50 dos quais dedicados à construção dos movimentos populares – decidiu, mais uma vez, colocar-se à disposição do movimento socialista para representar a esquerda nas eleições.

Valmir iniciou na política aos 16 anos, em organizações ligadas à Igreja Católica, como a Juventude Operária Católica (JOC) e a Ação Popular (AP). Foi fundador do PT em Santa Catarina e também o primeiro candidato do partido ao Senado, em1982.

Ingressou no movimento estudantil e teve forte participação na resitência contra a ditadura militar, tendo estado ao lado do ex-deputado Paulo Stuart Wright, cassado, perseguido e assassinado pelo regime. Até hoje, o corpo de Wright não foi encontrado.

Chegou a ser preso político após os agentes da ditadura descobrirem o local onde estava sendo realizado o 30° Congresso da UNE, em Ibiuna, onde outras mil pessoas foram presas, entre elas, Luiz Travassos, presidente da UNE na época.

Ainda no PT, em 1993, integrou o governo da Frente Popular em Florianópolis, sob indicação do então vice-prefeito Afrânio Boppré. Presidiu o diretório municipal do PT por duas vezes, e continuou sua militância ao lado de Afrânio, no início dos anos 2000, quando Afrânio foi deputado estadual (2000/2002 e 2003/2006).

Em 2005, após o PT abandonar suas bandeiras hitóricas, Valmir, Afrânio e um grupo de militantes saem do PT e ingressam no PSOL em Santa Catarina, partido onde estão até hoje.

Cor não faz diferença: Pesquisa comprova a eficiência das cotas na UnB

Cor não faz diferença
Autor(es): Luísa Medeiros e Ariadne Sakkis
Correio Braziliense – 17/06/2010

Os alunos negros aprovados na Universidade de Brasília pelo sistema têm rendimento bem próximo ao dos demais estudantes. Os especialistas que realizaram o levantamento afirmam que o programa, adotado em 2004, atingiu seus objetivos. Ontem, o Senado aprovou o Estatuto da Igualdade Racial.

Estudo revela que a diferença no desempenho entre os cotistas e os não beneficiados pelo sistema é menor do que a verificada entre mulheres e homens

Uma pesquisa que analisou o sistema de cotas antes e depois de ser implantando, no segundo semestre de 2004 na Universidade de Brasília, mostrou que comparado a outras políticas de acesso do negro ao ensino superior — que levam em consideração a renda familiar ou o histórico escolar — é o mais eficiente para promover a diversificação de raças dentro da universidade. O acesso à universidade representou também um incentivo à identidade racial, fazendo com que os candidatos e alunos assumam a identidade étnica com mais naturalidade. O estudo revelou ainda que, em relação ao desempenho escolar, a diferença nas notas dos cotistas e não cotistas é menor do que a verificada entre mulheres e homens.

A pesquisa foi iniciada há três anos pelos professores Maria Eduarda Tannuri-Pianto, do Departamento de Economia da UnB, e Andrew Francis, da Emory University, dos Estados Unidos. Os dados divulgados referem-se à primeira parte do estudo, que entrevistou, entre 2002 e 2005, 3 mil alunos cotistas e não cotistas, um universo que corresponde a 40% dos estudantes da UnB nesse período. Os professores pretendem acompanhar os universitários até o ingresso deles no mercado de trabalho. Dados pessoais e familiares foram levantados, mas as questões raciais foram mascaradas dentro dos questionários para fazer um mapeamento dos alunos sem interferências de comportamento e de oportunistas.

De acordo com Maria Eduarda, muitos dos alunos cotistas, de diferentes áreas de graduação, passariam no vestibular convencional porque estão acima das notas de corte do sistema universal. O desempenho deles na universidade, entretanto, é um pouco menor do que a de alunos que ingressaram pelo meio tradicional, mas no decorrer no curso, essa diferença é mitigada.

Em uma escala de zero a cinco, os cotistas têm desempenho 0.14 ponto inferior aos nãocotistas. “A diferença da média geral acumulada é menor do que a comparação entre homens e mulheres”, destacou ela. Se comparar o desempenho de cotista e não-cotista com a mesma nota de entrada no vestibular, a diferença é ainda menor. A diferença cai para 0,08 ponto numa escala de zero a cinco. A pesquisa não mostrou evidências de que houve aumento no esforço para passar pelo sistema de cotas, mas nem trouxe dados que comprovem a redução. “Isso mostra que eles não fizeram corpo mole porque tinham chance reais de passar”, diz a pesquisadora

Igualdade
O professor do Instituto de Artes e coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da UnB Nelson Inocêncio afirma que o resultado preliminar da pesquisa mostra que a política de implantar as cota está correta. “O discurso de uma possível queda de qualidade do desempenho dos alunos caiu por terra”, diz. Para o professor, quem criticou as cotas raciais fizeram uma presunção negativa que não se confirmou. “É preciso investir mais nas políticas de diversidade. Não adianta afirmar, de maneira enganosa, que as oportunidades são as mesmas.”

Os alunos da UnB encararam o resultado da pesquisa como um confirmação do que eles já sabiam. Johnatan Reis, 20 anos, entrou para o curso de serviço social no ano passado por meio do sistema de cotas. “Quando a gente entra, a matéria e as aulas que temos são as mesmas dos não cotistas. Tenho que fazer o mesmo esforço para passar. O quanto estudei no ensino médio ou a minha nota no vestibular não interessam”, analisa. Para ele, apesar dos resultados equivalentes, os cotistas ainda são estigmatizados. “Muitas pessoas ainda pensam que a nota inferior no vestibular vai se perpetuar ao longo da vida acadêmica do cotista, o que a própria pesquisa desmente”, diz.

Johnatan acredita que o sistema de cotas continua sendo necessário como um mecanismo de inclusão social e racial. “Acho que as cotas são um incentivo para que o negro entre na universidade e para que a sociedade tenha mais profissionais negros. O impulso foi dado e daí para a frente, não importa a cor da pele de um aluno ou a forma pela qual ele entrou.”

Linikker Araújo Conrado, colega de turma de Johnatan, é contrário ao sistema de cotas raciais. Para ele, essa alternativa “nasceu caduca”. Mesmo sendo negro, ele ingressou na UnB pelo sistema universal e defende as cotas sociais, por entender que é um modelo mais abrangente, que beneficiaria um número maior de pessoas que não tiveram oportunidades. “A pesquisa prova que cor não faz a menor diferença”, afirma Linikker.

Pedro Paulo Mendes, 22 anos, estudante de engenharia de redes, compartilha do mesmo entendimento de Johnatan. “Vai mais da pessoa do que da raça. É uma questão de inteligência e de dedicação”, afirma. “Esse estudo mostra que os dois têm capacidades iguais. Mas acho que as cotas são fundamentais para a inclusão social. E, no futuro, haverá igualdade e elas não serão mais necessárias”, projeta.

A Globo e o lançamento das candidaturas de Dilma, Marina e Serra

Fonte: Jornalismo B

15 junho 2010

Como já foi comentado em outro post aqui do Jornalismo B, parte da imprensa dita independente tem tido rompantes de cegueira pré-eleitoral, deixando a simpatia por um partido – no caso o PT – fechar olhos, tapar ouvidos e silenciar bocas e mãos. No fim da última semana tivemos uma amostra clara dessa tendência, mas no sentido inverso. Na ânsia de criticar a grande imprensa, alguns blogueiros e twitteiros erraram a mão, se precipitaram, e não se preocuparam em admitir o erro depois.

No último sábado (12/06), o candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, lançou sua candidatura oficialmente. O Jornal Nacional, em uma cobertura de quase cinco minutos, retomou sua trajetória política, mostrou o clima que antecedeu o evento de lançamento, apresentou algumas das propostas apresentadas, e deu espaço para falas dos principais apoiadores e do próprio candidato.

Então começou a gritaria, acusando o Jornal Nacional de dar muito mais espaço a Serra do que a Dilma Rousseff (candidata do PT), de defender a candidatura tucana de forma descarada, de desrespeitar deus e o mundo. Pois bem, gritaria em vão, gritaria no vazio. Não se preocuparam em raciocinar, partiram da ideia de que a Globo é tucana e pronto, então tudo é manipulação. Este post não é uma defesa da Globo ou do Jornal Nacional, fique claro. Se você, amigo leitor, não acredita, leia outros posts deste blog e verás que esse tipo de inocência não existe aqui.

O caso é que essa é a cobertura padrão da TV Globo para o lançamento das candidaturas do três candidatos considerados por ela os principais. Dois dias antes, na quinta-feira, o lançamento de Marina Silva (PV) recebera exatamente a mesma abordagem, e o mesmo tempo. E, no dia seguinte, o domingo em que foi oficializada a candidatura de Dilma, o Fantástico também fez rigorosamente o mesmo tipo de cobertura. Mesmos aspectos abordados, mesmo tempo de reportagem.

O Jornalismo B é o primeiro a levantar a bandeira da crítica de imprensa, da vigilância constante da mídia, do questionamento implacável. Mas questionamento não é picuinha, implicância, nem defesa partidária cega. Agindo e criticando sem pensar, a imprensa dita independente torna-se dependente, e causa mais três problemas básicos: reproduz tudo o que critica na grande imprensa – não checar os fatos, criticar por criticar, defender um partido com argumentos falsamente desinteressados, manipular –; prejudica a sociedade ao apresentar fatos irreais como reais; e prejudica os outros veículos e comunicadores independentes, ao enfraquecer, em argumentos defeituosos, a causa que afirmam defender.

O Jornalismo B já errou e volta e meia erra alguma análise, isso pode acontecer a qualquer veículo, a qualquer comunicador. Mas buscar seriamente não errar e, caso isso aconteça, reconhecer o erro, é pressuposto para qualquer um que pretenda trabalhar de forma ética e comprometida com a sociedade. Cuidado com o que você produz, e cuidado com o que você lê.

Postado por Alexandre Haubrich

PMDB ameaça intervir no diretório de SC se aliança com DEM continuar

A Executiva Nacional do PMDB determinou há pouco que o diretório do partido em Santa Catarina desfaça a aliança com o DEM até a próxima quinta-feira. Caso contrário, irá intervir no diretório estadual.

Ontem, o pré-candidato do PMDB ao governo do Estado, Eduardo Pinho Moreira, se retirou da disputa e anunciou apoio ao pré-candidato do DEM, Raimundo Colombo, ao cargo. A aliança com o DEM, não é um consenso entre os peemedebistas catarinenses. Parte do partido defende o apoio à candidatura da senadora Idelí Salvati (PT) ao governo, como o ex-governador Paulo Afonso.

O grupo de Pinho Moreira contrariou a cúpula nacional do partido, que oficializou no sábado passado uma aliança com o PT em torno da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência. Sem a pré-candidatura de Pinho Moreira, Dilma perde um palanque no Estado.

Na semana passada, a cúpula nacional do PT impôs aos diretórios estaduais do partido em Minas Gerais e no Maranhão alianças com os peemedebistas Hélio Costa (MG) e Roseana Sarney (MA), respectivamente, para a disputa pelos governos estaduais.

A decisão da Executiva Nacional do PMDB foi tomada em uma reunião no início da noite de hoje, em Brasília, convocada pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO), primeiro vice-presidente do PMDB, segundo a assessoria do partido.

A desistência de Moreira também contrariou o atual governador de Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB). Na semana passada, ele ofereceu o cargo de vice-governador em uma possível chapa PSDB-PMDB a Pinho Moreira, mas o peemedebista recusou. Segundo Pavan, o peemedebista afirmou que sua candidatura era “irreversível”.

A reportagem tentou entrar em contato com Eduardo Pinho Moreira, mas não conseguiu localizá-lo.

Super-jornalismo da Folha

A Folha de São Paulo fez uma matéria realmente “incrível” sobre o lançamento oficial de José Serra a presidência da república. A manchete diz “Governo tem esquadrão de militantes, diz Serra”. No texto, serra acusa o governo de “montar um esquadrão de militantes pagos com dinheiro público”.

E mais lá no fim do texto, em uma linha e sem destaque: “A reportagem apurou que muitos militantes receberam R$ 35 para ir à convenção [ de Serra]”.

Não entendeu? de novo. O que o repórter apurou é: Serra paga R$ 35 para “militantes” irem à convenção. E a manchete é Serra acusando o governo de “montar um esquadrão de militantes pagos com dinheiro público”, sem nenhuma prova ou evidência.

Leia aqui.

Sem hipocrisias

A Constituição brasileira assegura que todo brasileiro seja tratado como igual. Agora o debate eleitoral dará a oportunidade de fixar a posiço dos candidatos a respeito da luta GLBT

A atividade sexual sempre foi objeto de atenção por parte das religiões e dos integrantes da classe dominante, com formas de controle da sexualidade que levam à dominação e à opressão. Isto não é aceitável porque está na raiz do preconceito e da discriminação.

O grande avanço humanista que as rebeliões estudantis da metade do século XX representaram foi precisamente a denúncia da hipocrisia burguesa em relação ao sexo. A sociedade tomou outra forma depois desse movimento – e para melhor.

Preconceitos e discriminações são comportamentos longamente arraigados e difíceis de extirpar. Aqui no Brasil já caminhamos bastante no que se refere à orientação das pessoas em relação ao sexo, mais ainda há muito que fazer.

No dia 19 de maio, a convite das organizações gays brasileiras, estive na I Marcha Nacional Contra a Homofobia, em Brasília, que reuniu cerca de duas mil pessoas. Os participantes defendiam a aprovação pelo Congresso Nacional de projetos que legalizam a união civil entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais homossexuais.

O debate eleitoral dará a oportunidade de fixar a posição dos candidatos a respeito dessa questão – que não diz respeito apenas a uma minoria, mas a um principio de convivência social harmoniosa e democrática.

Como pré-candidato do PSOL à Presidência da República, após diálogos com diversos movimentos sociais e especialistas, tenho me posicionado favoravelmente ao direito de livre orientação sexual e à luta das lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. A Constituição brasileira lhes assegura esse direito, uma vez que estabelece a obrigação de que todo brasileiro seja tratado como “igual perante a lei”. E quem se propõe a debater os rumos do país e governar o povo brasileiro não pode se chocar com preceitos básicos do humanismo, submetendo-se à hipocrisia.

Drogas em Portugal: a descriminalização funciona?

Por Maia Szalavitz, da Revista Time

Qual é o país europeu que possui a legislação mais liberal sobre o uso de drogas? (Dica: Não é a Holanda). Embora a sua capital seja notória entre os usuários de maconha e estudantes de faculdade, principalmente pelos “cafés” onde o uso é permitido, de fato a Holanda nunca legalizou as drogas – os holandeses simplesmente não aplicam as suas leis contra os “cafés”.

A resposta certa é Portugal, que em 2001 foi o primeiro país europeu a abolir oficialmente todas as penas criminais para posse de drogas, incluindo maconha, cocaína, heroína e metanfetaminas.

Por recomendação de uma comissão nacional encarregada de resolver problemas relativos às drogas em Portugal, a prisão dos antigos infratores foi substituída com a oferta de terapia. O argumento era o medo de viciados em unidades prisionais no subsolo, além de que a prisão é mais cara do que o tratamento – por que não, então, em vez de prisão, prestar serviços de saúde aos dependentes químicos? Nos termos do novo regime de Portugal, pessoas acusadas de posse de pequenas quantidades de drogas são enviadas para um júri composto de um psicólogo, assistente social e conselheiro legal para o tratamento adequado (que pode ser recusado, sem punição penal), em vez de prisão.

A questão é, essa nova política funciona? Na época, os críticos da nova política eram os mais pobres, socialmente conservadores em uma nação majoritariamente católica. Eles diziam que descriminalizar o porte de drogas seria abrir o país para o “narco-turismo”, agravando problemas de drogas no país. Portugal teve alguns dos mais altos níveis de uso de drogas pesadas na Europa. Mas, recentemente divulgou os resultados de um relatório encomendado pelo Instituto Cato, que sugere o contrário.

O documento, publicado pelo Cato em abril, revelou que nos cinco anos após o porte de drogas ser descriminalizado, o uso de drogas ilícitas entre os adolescentes em Portugal diminuiu, e as taxas de novas infecções por HIV causada por compartilhamento de seringas contaminadas caíram, enquanto o número de pessoas que procuram tratamento para dependência química mais do que duplicou.

“A julgar pelos números, a descriminalização das drogas em Portugal tem sido um sucesso retumbante”, diz Glenn Greenwald, advogado, escritor e orador fluente Português, que conduziu a pesquisa. “Isso permitiu que o governo Português gerisse e controlasse o problema das drogas muito melhor do que praticamente qualquer outro país ocidental”.

Em comparação com a União Europeia e os EUA, os números de Portugal para o uso de drogas são impressionantes. Na sequência da descriminalização, Portugal teve a menor taxa de uso de maconha durante a vida em pessoas com mais de 15 anos (considerando a na UE): 10%. O cenário mais próximo disso nos Estados Unidos é em pessoas acima de 12 anos: 39,8%. Proporcionalmente, mais norte-americanos usaram cocaína durante a vida do que Português usaram maconha.

O relatório do Cato informa que entre 2001 e 2006, as taxas de uso durante a vida de qualquer droga ilegal entre os alunos do sétimo ao nono ano caiu de 14,1% para 10,6%; Já o uso de drogas em adolescentes mais velhos também diminuiu. O consumo de heroína entre 16 a 18 anos de idade caiu de 2,5% para 1,8% (embora tenha havido um ligeiro aumento no consumo de maconha nesta faixa etária). Novas infecções pelo HIV em usuários de drogas caíram 17% entre 1999 e 2003, e as mortes relacionadas com a heroína e drogas similares caíram pela metade. Além disso, o número de pessoas em tratamento com metadona e buprenorfina para dependência de drogas subiu de 6.040 para 14.877. Após a descriminalização, o dinheiro economizado com as sanções aos usuários permitiu aumentar o financiamento do tratamento livre de drogas.

O estudo de caso em Portugal já desperta interesse aos parlamentares dos EUA, confrontado agora com uma escalada violenta da guerra do narcotráfico no México. Os EUA há muito tempo defendem uma política linha-dura de drogas, apoiando apenas os acordos internacionais que impõem a proibição das drogas e impõe aos seus cidadãos, alguns dos mais duras sanções do mundo por posse e venda de drogas. Apesar da política repressiva, os Estados unidos possuem as taxas mais elevadas de uso de cocaína e maconha no mundo. Enquanto isso, a maioria da UE (incluindo a Holanda) possui uma legislação mais liberal, atingindo menores índices de uso de drogas.

“Eu penso que nós podemos aprender [ com a experiência portuguesa] e que deveríamos parar de ser reflexivamente oposição quando alguém realiza [a descriminalização]. Deveríamos levar a sério a hipótese de que esse esforço contra os usuários não terá muita influência sobre o consumo de drogas”, diz Mark Kleiman, autor do livro ainda não publicado When Brute Force Fails: How to Have Less Crime and Less Punishment [Quando a força bruta falha, como ter menos crime e menos castigo, em tradução livre], e diretor do programa de análise política de drogas na UCLA. Kleiman não considera Portugal um modelo realista para os EUA devido às diferenças no tamanho e na cultura entre os dois países.

Mas há um movimento em andamento nos EUA, nas legislaturas do Estado de Nova York, Califórnia e Massachusetts, a reconsiderar a nossa legislação sobre as drogas excessivamente punitivas. Recentemente, os senadores Jim Webb e Arlen Specter propuseram que o Congresso crie uma comissão nacional, e não ao contrário de Portugal, para tratar da reforma política prisional e revisão sentencial da drogas. Como notou Webb, os EUA é o lar de 5% da população mundial, mas possui 25% dos prisioneiros de todo o mundo.

No início de abril, no Instituto Cato, Greenwald sustentou que um grande problema com o debate da política de drogas entre os americanos são as argumentações baseadas em “especulações e difusão do medo”, ao invés de evidências empíricas sobre os efeitos das políticas mais brandas. Em Portugal, o efeito foi o de neutralizar os números que haviam transformado o problema das drogas em um problema de saúde pública, diz ele.

“O impacto na vida das famílias e da sociedade é muito inferior ao que era antes da descriminalização”, diz João Castel-Branco Goulão, “czar das drogas” e presidente do Instituto da Droga e Dependência Químca, acrescentando que a polícia está agora em condições de focar suas ações no monitoramento de traficantes.

Peter Reuter, professor de criminologia e da política pública da Universidade de Maryland, como Kleiman, é cético. Ele admitiu em uma apresentação no Instituto Cato que “é justo dizer que a despenalização em Portugal alcançou o seu objetivo central. O uso de drogas não sobe.” No entanto, ele observa que Portugal é um país pequeno e que a natureza cíclica das epidemias de drogas – o que tende a ocorrer, não importa quais as políticas que estão em vigor – pode explicar a queda no consumo de heroína e as mortes.

O autor do relatório do Cato, Greenwald, corta para o primeiro ponto: que os dados mostram que a descriminalização não implica no aumento do consumo de drogas. Ele acredita que a preocupação do público e dos políticos com a política de descriminalização “é a concessão central que vai transformar o debate.”

Leia o original (em inglês) em
http://www.time.com/time/health/article/0,8599,1893946,00.html
Tradução: Leonel Camasão (com ajuda do Google Chrome, é claro)