A mobilidade que queremos

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Na ultima quinta-feira, fui convidado pelo Movimento Passe Livre (MPL) para representá-los em um debate promovido pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Univille, com o tema “Mobilidade Urbana no Campus”. Além do MPL, foram convidados técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj) e representantes das empresas de ônibus. Alunos e professores também acompanharam o evento.

Apesar do público baixo – orbitou em torno de 20 pessoas, contando os que chegaram depois – acredito que este debate foi de uma riqueza ímpar, pois pela primeira vez, governo, empresas e movimento social estiveram juntos em um mesmo espaço, dando suas visões sobre a mobilidade e o transporte coletivo.

O técnico Marcel Virmond Vieira começou a exposição, em uma fala de mais de uma hora, onde deu números, dados e estatísticas sobre a mobilidade de Joinville. Acabei anotando alguns, que julguei interessantes e reproduzo graficamente abaixo.


Virmond exibiu também uma lista de obras que a Prefeitura está fazendo ou irá fazer, como alargamento de vias, ampliação de ciclovias, duplicações, entre outros. Para concluir, o técnico mostrou uma planta de como seria o mini-terminal da Univille.

Enquanto as pessoas perguntavam sobre o mini-terminal, fui chamado a falar. Aproveitei para, de início, deixar claro: não será o mini-terminal que vai resolver o problema de mobilidade no Campus da Univille. Disse mais ou menos o seguinte:

Afirmei que o mini-terminal resolverá, no máximo, o problema de embarque e desembarque dos estudantes, mas não o da mobilidade. Por exemplo: quem mora na Zona Sul só vai ter mobilidade para vir até a Univille se no trajeto houver mobilidade. O mesmo vale para o Boa Vista, Iririú, Guanabara e todo o resto: só há mobilidade no campus se houver mobilidade na cidade.

O coração da nossa mobilidade – o transporte coletivo – é o mais caro e mais ineficiente, segundo teste de mobilidade realizado pelo jornal A Notícia.


Constatei também o eminente colapso do sistema: hoje, enquanto a tarifa sobe, o número de passageiros cai cada vez mais, como mostram os gráficos. Enquanto isso, empresas pedem isenção fiscal para continuarem gerindo um sitema falido por mais uns 15 anos. Vamos explicar

Funciona assim. A tarifa é, hoje, o custo total (CT) dividido pelo número de passageiros pagantes. Em uma conta simples, se o CT é 100 e eu tenho 10 passageiros, a tarifa é 10, afinal, 100/10 = 10.

Se dois passageiros compram uma moto e deixam de usar o ônibus, o CT continua o mesmo, mas a tarifa sobe. 100/8 = 12,5. Isso ocorre em circulo, pois a tarifa sempre aumenta (combustivel, salários, etc) e os passageiros sempre vão embora porque pagar a prestação de uma moto é mais barato. Esse é o círculo vicioso, que levará o sistema ao colapso se nada for feito.

A proposta que apresentei – que é uma das propostas debatidas dentro do Movimento Passe Livre – é a de municipalização do sistema. Ela estanca o colapso, democratiza o transporte, torna o controle mais rígido, mas não garante mobilidade de fato. O que garante a mobilidade é o Tarifa Zero. Pois, a custo Zero, as pessoas podem deixar carros e motos em casa para utilizar o transporte, desafogando o trânsito, diminuindo acidentes, diminuindo o passivo ambiental, e assim por diante.

Hasselt, na Bélgica, promoveu o Tarifa Zero. Lá, em dez anos, o número de usuários aumentou 1.319%, saltando de 360 mil em 1996 para 4,6 milhões em 2006. O resultado é visto nas ruas.

Para financiar o Tarifa Zero, pode-se criar um Fundo Municipal, que receberia verbas específicas, como por exemplo, o dinheiro arrecadado com o estacionamento rotativo, repasses do IPVA, IPTU progressivo, entre outros.

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